Pérolas

Pais dizem cada coisa… E os filhos acreditam!

Parados para abastecer o carro, a pequenina filha, com uns 6 ou 7 anos, comenta: “Cheiro de gasolina é tão gostoso, né, pai?” Ao que o pai responde: “É, mas toma cuidado porque cheiro de gasolina vicia”. Uns 8 anos após esta real cena, a menina, agora adolescente, revela: “Pai, sabia que depois que você disse que cheiro de gasolina viciava, toda vez que a gente parava pra abastecer eu fechava o nariz? Eu ficava com um medo de me viciar em cheiro de gasolina!”

Que exagero! Os pais exageram no que dizem sem a menor necessidade. Cheiro de gasolina vicia? Até pode ser que sim, mas não por ficar parado num posto durante uns 5 minutos para abastecer o carro. As crianças são ingênuas, estão aprendendo a respeito de tudo com seus pais; os filhos acreditam totalmente no que os pais dizem; por isso, é preciso haver respeito dos pais para com os filhos, levando em consideração o que as crianças falam, acatando suas singelas opiniões e olhando-as como pessoa porque criança também é pessoa.

Todas as vezes que a garotinha fazia algo de errado – como toda criança faz – a mãe prometia: “Quando seu pai chegar em casa, vou contar para ele e você vai levar uma surra tão grande que jamais irá se esquecer”. Pois bem, aquela menina jamais ganhou sequer um tapa do pai; entretanto, cada vez que a mãe dizia isto, ela corria para o quarto e ficava horas escondida embaixo de lençóis, apavorada, esperando a hora do pai chegar. Vinte anos depois, ela ainda lidava com aquele estranho medo.

Já vi muitas mães fazendo isto – prometendo contar para o marido as travessuras do filho. Com esta atitude, as mães simplesmente estão atestando para a criança que não são capazes de lidar com a situação ou que são inseguras para disciplinar o filho na hora que ele precisa. Além disto, fazem com que a criança sinta medo e não respeito pela figura do pai.

Desde muito pequeno os adultos mais próximos daquele menino – pai, mãe e babá – o intimidavam com figuras místicas. “Não vá ali, o bicho-papão vai te pegar.” “Não faça isto, o homem mau não gosta de criança bagunceira.” “Não saia de perto de mim, pro monstro não te pegar.” Esta era a constante maneira de por limites no menino.

Cada vez que ouço um adulto dizer coisas assim para uma criança, meu coração se aperta, porque uma criança criada assim, certamente se tornará um adulto com dificuldades de lidar com o novo, de enfrentar a vida. Será insegura e temerosa, pois terá internalizado, por toda a vida, que há um “monstro” querendo agarra-la em cada esquina ou quarto escuro.

“Deus não gosta de criança malcriada!” “Deus está muito zangado porque você fez isto.” “Deus vai castigá-la, porque você está sendo desobediente.” Ouvindo estas “pérolas” de sua mãe durante toda a infância, aquela menina desenvolveu um terrível medo de Deus. Hoje, já adulta, é uma constante luta interior acreditar que Deus a ama e que não vai castigá-la terrívelmente cada vez que comete um erro. Além disto, tem uma dificuldade enorme em aceitar seus próprios erros – sim, porque todo adulto comete erros.

Será que você tem cometido o erro de lançar “pérolas” assim aos ouvidos e mentes de suas crianças? Lembre-se sempre que a criança acredita, porque confia no que você diz. Porque você é uma referência para ela.

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Por: Psic. Elizabete Bifano

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