O Brasil tem sido atormentado, nos últimos dias, com as notícias de constantes chacinas nos presídios.
São cenas de horror, de barbárie, de atrocidade. Somado à negligência das autoridades, burocracia da justiça, incapacidade dos departamentos de inteligência das polícias civis de anteciparem aos acontecimentos.
Infelizmente não foi a primeira e nem será a última chacina nos presídios brasileiros.
Sempre, quando tragédias dessas acontecem, logo surgem os debates. Há toda uma mobilização por parte das autoridade na questão presidiaria.
Explicações são dadas, desde a questão das lutas das facções, que hoje dominam o submundo das drogas, até questões mais complexas.
Mas, no cerne da questão ninguém toca.
Qual é o cerne da questão, então? O cerne é a família!
É a desestruturação, não só do Estado, mas acima de tudo do esfacelamento da estrutura familiar.
Um dos viés da grande população carcerária está ligada à desintegração da família em vários sentidos, como por exemplo, a falta de autoridade e desleixo dos pais no que tange a disciplina dos filhos, especialmente, de crianças mais expostas a cooptação por parte de traficantes.
Não é a pobreza que leva uma pessoa ao crime, mas a falta, a ausência dos pais e a fragilidade da autoridade dos mesmos.
Nunca me esqueço de uma conversa que tive com o garagista do prédio onde moro, há muito tempo. Ele se chamava Nogueira.
Uma vez, Seu Nogueira me disse: “Morei numa das piores favelas do Rio de Janeiro e nenhum dos meus filhos deu prá coisa ruim, porque eu era firme com eles. Dizia que não queria nenhum deles de conversinha com traficantes ou frequentando os bares da comunidade ou ficando até tarde na rua. Eles tinham hora para sair, para chegar e eu participava da escolha dos seus amigos, com quem eles andavam”.
Outro problema está na ausência dos pais na vida da maioria dos presos que se encontram hoje, nos presídios brasileiros.
Basta passar na porta de entrada dos presídios, na hora que antecede as visitas, para perceber poucos homens, poucos pais. A maioria é de mulheres.
Não, de forma alguma, as mulheres tem sido o problema, mas a ausência dos pais ou de uma presença negativa dos mesmos no ambiente familiar ou na vida da maioria das pessoas que se encontram hoje nos presídios brasileiros.
Outro fator, está na gravidez irresponsável que temos nos dias de hoje. O que esperar de uma sociedade onde se orienta tão somente como se prevenir das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) mas não se leva os jovens pensarem o que significa e as implicações de uma futura maternidade ou paternidade que poderão surgir a partir de relações sexuais casuais e fugazes?
Mas, para a sociedade e para o Estado é melhor não pensar na raiz do problema e deixar como está.
Enquanto isso, milhões são gastos com o sistema penitenciário, vidas são ceifadas, tragédias continuarão a existir, pais e mães continuarão a chorar pelos mortos, a barbárie continuará presente nos jornais, a imagem do Brasil na lama da comunidade internacional.
Sendo assim, a ordem continua: Construam presídios!
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Por: Gilson Bifano
Escritor e conferencista na área de casamento e família. Coaching de casais e famílias.