Jogando damas

damas“O que um pai diz aos seus filhos não é ouvido pelo mundo, mas deve ser ouvido pela posteridade”. (Jean Paul Richter)

Quando Milton alcançou a velhice, e junto uma pesada enfermidade, o filho Flavio resolveu fazer algo que pudesse alegrar o coração de ambos.

Convidou o pai para jogar damas. Queria com isto, entre outras coisas, contribuir para ativar a mente do seu velho querido.

Durante alguns dias, Flávio fez a mesma proposta, mas o pai não demostrava qualquer interesse pelo jogo.

Depois de algumas insistências, Milton perguntou:

— Por que você quer jogar damas comigo?

O filho explicou:

— Lembra, pai, quando, você jogava damas comigo durante horas? Aqueles momentos ficaram marcados na minha vida. Você me ensinou a jogar. Deixou que eu lhe vencesse algumas vezes, eu sei. Depois nossas partidas se tornaram bem disputadas, com vitórias de ambos os lados. Quero me alegrar de novo. Vamos jogar?

Tendo desconversado várias vezes, Milton deu a resposta que certamente lhe parecia totalmente natural:

— Não quero.

Flavio questionou:

— Como, pai, se você gostava tanto de jogar comigo?

Então, veio a surpresa:

— Eu nunca gostei de jogar damas. Eu jogava porque você gostava e eu queria alegrar você.

Com a resposta, o coração do filho se enterneceu ainda mais.

Todas as vezes em que conta a história, seus olhos marejam de saudade, especialmente depois que Milton partiu.

Feliz é a pessoa que pode ser lembrada assim por filhos ou amigos.

Feliz é quem pode honrar seu pai contando histórias cheias de ternura e admiração sobre ele.

Feliz é o homem que pode se espelhar no pai que tem ou teve para amar seus próprios filhos.

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Por: Israel Belo de Azevedo
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