Os jovens universitários de uma cidade tradicional e conservadora resolveram chamar um rabino para lhes falar sobre casamento. Como já tinham ouvido outros líderes espirituais, ficaram curiosos em saber qual é o ponto de vista da tradição judaica sobre casamento.
O rabino veio e lhes disse: “Vocês querem que eu lhes fale sobre casamento? Para que se casar? Vocês não sabem que hoje em dia não precisa mais se casar?…”
Surpreso e, até certo ponto, indignado, um dos estudantes respondeu:
“É claro que tem que se casar, para ter uma companheira, alguém ao meu lado compartilhando esta jornada pela vida!”
E o rabino lhe disse:
“E para isso precisa se casar? Tenha uma companheira e pronto!”
“Mas rabino”, retrucou outra aluna, “casamento é amor na sua vida!”
E o rabino lhe disse:
“Então ame, mas por que você precisa se casar?”
“Mas rabino, casamento é estabilidade, segurança! A certeza de que alguém estará sempre ao seu lado, lhe dando apoio e sustento, ajudando com as contas do lar!”
E o rabino lhe disse:
“Então vá para um advogado e faça um contrato de responsabilidade mútua e você terá apoio, sustento e segurança — e até contas pagas!”
“Mas rabino, você precisa de casamento para ter intimidade com seu cônjuge, para compartilhar a mesma cama, não só as contas…”
E o rabino lhe disse: “Você não sabe que hoje as pessoas podem ter intimidade e sexualidade mesmo sem casamento?…”
“Mas rabino”, disse outra estudante já bastante alterada, “e os filhos? Um casal precisa do casamento para que os seus filhos tenham um lar, um pai e uma mãe!!!”
E o rabino lhe disse: “Você não sabe que hoje em dia muita gente não quer mais ter filhos? E mesmo as que querem ter filhos, por que precisam do casamento? Basta ter filhos e ser um bom pai e uma boa mãe!”
A classe não acreditava no que estava ouvindo (não esqueçam que se tratava de uma cidade muito tradicional e conservadora). Todos perguntaram ao rabino:
“Rabino, o senhor é casado?”
E ele lhes respondeu: “Sim.”
“O senhor tem filhos?”
Novamente ele disse sim.
E aí lhe perguntaram: “Então por que o senhor se casou?”
E o rabino lhes respondeu:
“Eu me casei porque o casamento é um mandamento divino. Foi o Criador que ordenou aos ancestrais de toda a humanidade, Adão e Eva, a se casar (como consta em Genesis 1:24) — e não só para ter companheirismo, amor, estabilidade, segurança, intimidade ou um lar para os meus filhos. Eu me casei porque o casamento é sagrado, é uma união divina! Não é uma mera formalidade humana… Essa é a milenar tradição judaica do conceito de casamento.”
Qualquer outra união que envolva amor, companheirismo, estabilidade econômica ou emocional e até intimidade entre duas pessoas pode ser linda e louvável, mas não é um casamento. Pode ser um contrato, uma amizade profunda e altruísta, coroada de sentimentos sinceros e humanos, mas só pode ser chamada de casamento se for realizada da forma que o Criador do universo estipulou: entre um homem e uma mulher. Sim, porque o casamento não é um conceito humano; é uma ideia divina!
O conceito de “casamento” é sagrado. Não devemos profaná-lo.
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Por: Rabino Yehoshua Goldman
Publicado originalmente no Jornal O Globo (17/03/2018)