A maturidade bem-sucedida é uma condição individual do bem-estar físico e social, em que se preserva o potencial de desenvolvimento e respeitam-se os limites da plasticidade de cada um.
O envelhecimento é um processo biológico e psicológico, cujas alterações naturais determinam mudanças estruturais e somáticas que modificam as funções psíquicas. Contudo, a evolução por meio da educação, inclusive na velhice, pode beneficiar o homem social e psicologicamente. Infelizmente, isso nem sempre acontece, havendo, com o passar dos anos, a tendência ao recolhimento, que leva a relações e a um viver limitados a um microcosmos. Portanto, falar sobre a velhice é falar de uma fase complexa.
A geração que hoje desfruta da maturidade nasceu sob a égide das comunicações. Presenciou guerras mundiais, assistiu ao desenvolvimento explosivo das ciências e ao avanço da biologia, que possibilitou as imunizações e a cura de doenças infecciosas. Utilizou-se das canetas-tinteiros, da taquigrafia e da máquina de escrever elétrica, substituída pelo computador, que permitiu a absorção e transmissão de uma maior quantidade de valores escritos. Simultaneamente, percebeu alterações biológicas no seu corpo e no meio ambiente ao seu redor.
Os critérios da sociedade também sofreram mudanças. Passou-se a exigir um raciocínio mais rápido e a compactação da informação visual no contraste branco e preto, seguido pelo colorido.
O modo como lidamos com tudo isso fez com que o papel do idoso também mudasse. O impacto sobre cada um dependerá do seu próprio interesse, cultura, relações de ensino e aprendizagem desenvolvidas individualmente, recursos interiores, normas e relações sociais às quais está vinculado.
O indivíduo, em seu envelhecimento, precisará superar seus próprios preconceitos, ou aqueles implantados na sociedade. A palavra envelhecimento, do grego “ageism”, que significa “envelhecismo”, conceitualmente está fundamentada no declínio biológico. Alicerça-se em uma idéia falsa de que o envelhecimento causa, obrigatoriamente, incompetência comportamental. Por isso, parte daqueles que chegam à velhice, sobretudo pela aposentadoria, perde poderes políticos e econômicos e, algumas vezes, se priva também do status social, respeito e valor. Se lhe forem acometidas doenças e pobreza, o quadro se agrava, pois somam-se a falta de prestígio e a dependência física, psicológica e financeira da família e da sociedade.
Uma análise da velhice e sua superação mostra que toda a situação humana possui uma dimensão existencial que precisa modificar a relação do indivíduo consigo, com o outro, com o mundo e com o tempo. Para Beauvoir (1990), a vivência dessas relações acontece de forma diferenciada, de acordo com maior ou menor grau de deterioração do corpo.
Temos de considerar também o espaço temporal. Significa dizer que, entre passado e presente, há um grande espaço e que o futuro pode se tornar muito curto. Desse modo, o idoso precisa utilizar-se de tudo que o estimule, procurando meios para modificar as formas pelas quais lidará com a vida.
Segundo Ramadan (1984), nem todos os idosos passam pelo mesmo processo de envelhecimento. Há pessoas apegadas à vida, que não empreendem passivamente a contagem regressiva e que se apegam aos mais simples prazeres da vida. Exercem poder e realizam atividades satisfatórias. Sendo assim, a maturidade bem-sucedida é uma condição individual do bem-estar físico e social, em que se preserva o potencial de desenvolvimento e respeitam-se os limites da plasticidade de cada um.
A colaboração da química
A química e o desenvolvimento de novos medicamentos foram importantes. No entanto, é preciso cuidado porque se tornaram produtos de mercado. O homem se utiliza de substâncias químicas para melhorar seu estado físico e psíquico, modificando rapidamente seu estado de espírito ou modo de agir, quando convém.
A importância dos novos medicamentos não se esgota no benefício terapêutico que trouxeram ou nas mudanças culturais que catalisaram. Eles também passaram a gerar problemas pessoais e sociais, pela dependência física e psíquica que podem induzir, embora, sob recomendação médica apropriada, sejam determinantes para um número ponderável de pessoas na velhice.
A atividade física
Uma perspectiva importante para a maturidade é a educação física, que melhora a qualidade de vida da população idosa.
Os diferentes programas oferecidos visam aumentar a qualidade de vida e o crescimento da participação na sociedade. Muitos profissionais elaboram, organizam e orientam programas que incluem palestras, debates e eventos científicos.
Há um grande staff na área, evidenciando o papel da atividade física como decisivo para a aquisição e manutenção da saúde. Além do exercício e recreação orientados, há o estímulo e a adesão das pessoas à atividade física como prescrição ao tratamento de doenças cardíacas, respiratórias, hipertensão, obesidade, diabetes, osteoporose, entre outras, resultantes, em grande parte, do sedentarismo.
Os modelos de condicionamento físico estabelecem, a priori, metas a serem atingidas a partir de padrões pré-estabelecidos, comportamentos motores a serem seguidos, percentual de peso a ser perdido, eficiência de determinados órgãos e regiões do corpo. Eles são parâmetros. No entanto, o idoso precisa avaliá-los e não se enxergar como um coração doente ou um organismo inapto. Os objetivos devem ser aqueles que busquem a melhoria da saúde, da aptidão física e das características estéticas, mantidos com disciplina e íntima participação intelectual.
É preciso compreender que, para cada pessoa, há algo especial que pode estimulá-la à prática do exercício físico como um virtuoso caminho a ser trilhado para a sua felicidade.
O relacionamento com Deus
Deus nos fez pessoas únicas. Fomos criados no ventre de nossa mãe e Ele nos soprou o fôlego da vida (Sl 139.13). Dele recebemos a capacidade de nos relacionarmos com Ele, fonte de todas as coisas. Como parte de uma vida saudável integral, o idoso deve reconhecer a necessidade de uma vida espiritual sadia, amparada num relacionamento profundo com Deus, diário e sem restrições.
A Palavra de Deus é fonte de instrução para uma velhice que não é necessariamente penosa, mas tem como princípio uma participação social, que instrui os varões da terra, que assiste ao fruto da vide florescer, que vê os filhos dos seus filhos crescerem e que, sobretudo, não é desamparada.
De Deus recebemos a promessa de uma velhice robusta, que será recolhida como feixe de trigo a seu tempo (Jó 5.26); uma velhice farta de bens, de sorte que somos renovados, em mocidade (Sl 103.5). Tais promessas só podem ser acalentadas em nosso coração pela força da fé que é dom de Deus, e por conhecermos a razão da nossa fé: Jesus Cristo, o Filho de Deus que veio em carne, conforme a palavra dos profetas, morreu em nosso lugar para salvação dos pecados, ressuscitou ao terceiro dia e ascendeu aos céus, sendo isto para testemunho de muitos (At 2.22-24, 32 e 4.12).
Meu interesse é compreender a maturidade a partir das experiências de vida de cada um e das minhas. No transcorrer da maturidade, minhas vivências apontaram para o ambiente que sempre me cercou, percebendo acontecimentos resultantes de minha área de estudo e daquilo que praticava no meio de pessoas também singulares.
Verifiquei que, a partir de uma vida não sedentária, de uma atividade intelectual intensa, da interação com a sociedade, desenvolveram-se em mim potenciais biológicos, a capacidade de mover-me, recursos físicos e motores latentes que, se deixados de lado, cairiam na acomodação e na inatividade. Em meu processo de envelhecimento, descobri que em mim está não só a saúde, mas a autonomia, o reconhecer e o lidar com o corpo e com a mente.
Com prazer realizo as atividades cotidianas na área da intelectualidade, no manuseio descontraído das teclas do computador; no amanhecer, capto e-mails.
Pude, nestas quase sete décadas, avaliar o quanto desfrutei das experiências do meu próprio corpo, do intelecto, nas funções que me propus a executar, e dos desafios que se apresentaram; muitos, pela própria realização, outros, para ultrapassar dificuldades familiares e limitações progressivas.
Isto que compartilho foi vivido e experimentado, podendo ser absorvido por outros. Todos podem desfrutar da maturidade com saúde, com aptidão corpórea, intelectual e espiritual. Estou muito certa de que as aposentadorias precoces podem não só criar dependência física como também intelectual, além de acarretar grandes encargos para a sociedade. Se estamos aptos a usufruir do que a vida pode nos oferecer, não nos cansando nem nos fatigando, temos de acreditar no futuro, porque os que esperam no Senhor renovam as suas forças (Is 40.31). A ajuda da medicina e da educação física podem nos proporcionar um futuro que não é tão curto. Assim, concluímos que podemos ter uma velhice ativa, feliz, confortável e renovada como a da águia (Sl 103.5).
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Por: Juida de Deus Palma-Contar
Fonte: Revista Ultimato