Família é projeto de Deus. Trabalho é o meio para sustentar esse projeto. Por isso, o Senhor criou a instituição Trabalho antes da instituição Casamento (Gn 2.15-18). Primeiro “lavrar e guardar”, depois “casar”. Esse é um princípio divino que não pode ser negligenciado, sob pena de formarmos lares instáveis e infelizes.
A vida familiar é edificada sobre o fundamento do trabalho. A família é uma comunidade somente tornada possível pelo trabalho, porque é normalmente por meio do trabalho que obtemos os meios necessários para sustentá-la. E mais: o trabalho é uma questão de fé e testemunho. O apóstolo Paulo chega a afirmar que “se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel” (1Tm 5.8). Conselheiros de casais observam que a causa número um de divórcio é o conflito financeiro.
O marido desempregado fica humilhado, se distancia dos filhos, o relacionamento com a esposa esfria, e o resultado é o afastamento, a separação, o divórcio.
Desemprego adoece a família
Uma preocupante pesquisa Datafolha foi publicada pela Academia Brasileira de Letras em 2008. É impressionante a massa de dados mostrando, de maneira inequívoca, que “a perda do trabalho regular faz mal, muito mal, à saúde”. Na Inglaterra, verificou-se que desempregados têm 80% mais chances de apresentar problemas de saúde do que os empregados. Têm mais hipertensão arterial, níveis de colesterol mais altos; bebem mais, fumam mais, tendem à obesidade (nem sempre desemprego é passar fome) e ao sedentarismo.
Em termos de saúde mental, diz a pesquisa, a situação é igualmente sombria. O emprego é um fator de equilíbrio emocional, e não só por causa do salário, do seguro-saúde e de outros benefícios. Emprego é uma oportunidade para a pessoa mostrar seu conhecimento e suas habilidades; para conviver com outras pessoas; para valorizar-se socialmente. Estudos realizados nos Estados Unidos, na Alemanha e na Austrália mostraram que desempregados desenvolvem ansiedade e depressão. E isso tem repercussões, aumentando a chance de divórcio, de violência doméstica e até de gravidez não desejada. Consequência: como mostrou uma pesquisa do governo australiano, desempregados recorrem mais a serviços médicos, ocupam mais leitos hospitalares e consomem mais medicamentos.
Segundo a referida pesquisa, os problemas do desemprego repercutem na saúde da família. Os filhos pequenos de desempregados têm 26% mais chances de adoecer; a mortalidade infantil nessas famílias é maior e, segundo um estudo britânico, a mortalidade entre mulheres de desempregados é 20% mais alta. Como é maior a mortalidade entre os próprios desempregados: 37% mais elevada, segundo uma pesquisa realizada na Inglaterra e em Gales. Se o desempregado tinha alguma doença, a chance de óbito é três vezes maior quando comparada à de outras pessoas com a mesma doença, mas empregadas. É maior, entre os desempregados, o número de óbitos por doença cardiovascular, acidentes e suicídios.
O salário é muito importante para a manutenção saudável da família. Não existe casa, alimentação, vestuário, remédio, Bíblia, escola e carro sem dinheiro. Ter uma família custa caro e dinheiro só se ganha trabalhando.
A vontade de Deus é que Seus filhos trabalhem, andem em dignidade e não passem dificuldades financeiras nem materiais (2Ts 3.1-12). Faltando trabalho, a família padece e a sociedade sofre as consequências.
A bênção do trabalho
A Bíblia afirma que a origem do trabalho é divina. Precedeu a queda do homem (Gn 2.15) e fará parte da existência dos remidos na Nova Terra (Is 65.21-23). O trabalho será necessário sempre, nesta vida e na vida porvir.
No Antigo Testamento não faltam menções aos diversos ofícios exercidos pelos israelitas (Êx 31.1-11; Is 44.12-15; Jr 18.3 etc.). No Novo Testamento encontramos várias referências ao trabalho humano (Mt 8.9; Mc 12.2; Lc 4.23; Jo 10.11 etc.). O próprio Jesus exerceu uma profissão (Mc 6.3). Encontramos no livro Atos dos Apóstolos, profissionais da igreja primitiva que possuíam carreiras destacadas na comunidade: Cornélio era centurião; Lídia, vendedora de tecidos púrpura; Simão era curtidor; Dorcas, ótima costureira; Áquila, Priscila e Paulo fabricavam tendas.
Infelizmente, durante séculos invocou-se a maldição divina do trabalho depois da queda de Adão. A punição, porém, está na terra – “maldita é a terra” – e não no trabalho. A moderna palavra “trabalho” vem do latim tripalium (três paus), que era um instrumento de tortura usado pelos romanos para supliciar os escravos. Igualmente, a palavra labor, que é sinônimo de trabalho, também lembra sofrimento, dor, fadiga. À crença do trabalho como “pecado” somou-se à ideia do trabalho como “escravidão” e “sofrimento”. Na Idade Média, trabalhar tornou-se sinônimo de “servidão”, e quando da Revolução Industrial, algo degradante e desumano. Ainda hoje, o trabalho está associado a algo ignóbil, penoso, difícil e dolorido.
Mas trabalho não é uma “guerra” que destrói, nem “luta” de uns nocauteando outros. Trabalho também não é sinônimo de pecado e sofrimento. Tudo isso é mentira. Trabalho não é assim. A Bíblia diz que o trabalho é sagrado porque foi ordenado por Deus desde o início, antes da queda do homem (Gn 2.15). Após a queda, ele só ficou mais difícil, devido às condições da terra. O trabalho em si é uma das bênçãos originais de Deus que conduz ao sucesso, à honra e à riqueza (Pv 10.4; 12.24; 13.4). Cristo declarou que, quando Ele vier, encontrará os Seus escolhidos trabalhando. Uns na agricultura, outros na indústria e, ainda outros no comércio (Mt 24.40; Lc 19.13).
O Evangelho do Trabalho
No princípio, o ser humano não precisava esforçar-se para adquirir seu sustento cotidiano. Após a queda, a terra foi amaldiçoada e o trabalho tornou-se algo difícil, dolorido e fatigante (Gn 3.17-19). A boa notícia é que Jesus veio com o objetivo de libertá-la de toda forma de maldição (Gl 3.13).
O sangue de Jesus na cruz nos trouxe Salvação, que é a maior de todas as bênçãos, mas Ele estava também reconciliando com Deus “todas as coisas”, e isto inclui o Trabalho Humano (2Co 5.19; Cl 1.20). Adão perdeu o domínio sobre a terra, mas Cristo, o segundo Adão, o recuperou. Em Cristo tudo começou novamente. Agora Seu poder redentor pode ser levado também ao local de trabalho. O profeta predisse o papel da obra redentora do Salvador: “Ele tomou sobre si as nossas dores” (Is 53.4). Mediante Cristo, a fadiga do trabalho deixa de existir (Mt 11.28). O trabalho passa a ser algo escolhido, prazeroso, querido. Uma oportunidade para adorar a Deus e servir ao próximo. É este o Evangelho do Trabalho.
O Senhor Jesus sabe que cada família tem necessidades materiais específicas que precisam ser supridas cotidianamente. Na oração modelo, Jesus nos ensina a pedir a Deus por elas: “Pai nosso, que estás nos céus,… o pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mt 6.11). Jesus fala a famílias grandes e pequenas (Mt 25.14-15). Mas essa é uma petição particular, feita em secreto, a um “Pai” que é divino. O “pão” é tudo o que necessitamos cotidianamente, e não somente o que é básico, indispensável. O suprimento não é barganhado ou vendido, mas “dado” graciosamente por Deus.
O pai de família cristão sabe que seu lucro não virá de investimentos, de empreendimentos, de uma transação ou de um cargo. Esses são apenas canais que levam ao lucro que vem da Fonte, que é Deus. Os canais podem até mudar, mas a Fonte é imutável, não seca nunca e jorra bênçãos em profusão. Mas para conseguir o que se precisa, tem que pedir (Mt 7.7-11; 21.22). É preciso dizer ao Pai o que necessitamos para cada dia, “e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará” (Mt 6.6).
Lar com uma missão
A Bíblia diz que as mulheres devem ser “submissas” a seus maridos (Ef 5.22). “Submissão” é uma palavra composta pelo prefixo sub (inferior, embaixo de, debaixo) e pela palavra missão (vocação, propósito, mandato). Submissão, em última instância, quer dizer “estar sob a missão de alguém”. Então, submeter-se a alguém é o mesmo que estar sob o mandato dessa pessoa. Como bem descreve o livro de Gênesis, a esposa é uma adjutora, auxiliadora, ajudadora, companheira, na realização da missão do esposo no mundo. Assim como a igreja está submissa a Cristo, assim também as mulheres estão aos seus maridos.
Mas como pode a esposa seguir um marido que “não sabe para onde vai”. Não ter uma “missão” na vida, um propósito. É o mesmo que estar num barco sem direção, sem rumo, sem saber para onde ir, estar perdido. Com certeza essa não é a vontade de Deus para a família: vagar pelo mundo sem direção, sem uma razão de ser, sem propósito.
Cada ser humano nasceu com uma missão no mundo. A provisão é uma recompensa à obediência a esse chamado de Deus. Deus nunca sustentará o que não originou. Vocação é o único lugar em que a provisão está garantida. Se o pai de família estiver no centro de sua missão, o resultado financeiro será apenas consequência. Por outro lado, se trabalhar apenas pelo dinheiro, sem levar em conta a vontade de Deus, está transgredindo um princípio do Reino que levará, sem dúvida, ao fracasso e à frustração (Mt 25.14-30). Tentar ao Senhor é pecado, diz a Bíblia.
Está escrito: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). Deus moverá céus e terra para ajudar um pai de família a cumprir sua missão (Mt 28.20). Elias foi alimentado por um corvo. Os israelitas foram alimentados com pão que caiu do céu. Jesus foi alimentado por anjos. Milagres são normais na vida daqueles que obedecem ao chamado de Deus (Mt 17.27). “O verdadeiro segredo de uma vida bem-sucedida é descobrir qual é o destino de uma pessoa e então cumpri-lo”, disse o famoso industrial Henry Ford.
“Agência Celestial de Trabalho”
Se você trabalha para Deus, na cidade ou no interior, não precisa temer o desemprego ou a concorrência. A bênção de Deus não está no lugar, mas na pessoa. A bênção está onde você está. A bênção está em você. Você é a bênção! Abraão foi abençoado no deserto. José na prisão. Daniel no cativeiro babilônico. Jesus na ímpia Nazaré (Jo 1.46). Deus é a melhor AGÊNCIA DE TRABALHO que existe! Ele não exige “experiência anterior”, “juventude” ou “boa aparência”. Ele não discrimina “deficientes físicos”, “mulheres”, “negros” ou “pobres”. Deus pede somente por uma alma humilde que trabalhe pela fé (Rm 1.17).
“Digno é o trabalhador do seu salário” (Lc 10.7). O Senhor sabe exatamente quem você é, os recursos que possui e o que está fazendo. Sabe o que você merece e o recompensará. É lei. É promessa de Deus. Então, pela manhã, ao sair para o trabalho, ore a Deus por orientação. No serviço, faça tudo o que Ele mandar. Voltando para casa, agradeça antes de dormir. O seu negócio vai dar certo porque é obra de Deus. Todo trabalho que visa melhorar as condições de sobrevivência e desenvolvimento da Humanidade em qualquer dimensão é digno e elevado, uma obra para Deus (Cl 3.23; 1Co 10.31). Uma antiga história diz que três operários construíam a canalização do esgoto urbano. Perguntados sobre o que faziam, o primeiro respondeu que sobrevivia; o segundo que trabalhava no esgoto; o terceiro explicou que estava melhorando as condições de vida da população. É tão sagrado o trabalho do gari que varre o lixo da rua quanto o pesquisador que busca a cura da AIDS, porque ambos estão melhorando o mundo.
Não podemos também confundir deficiência com fraqueza ou impossibilidade. Infelizmente, mais que uma limitação, muitos estão paralisados pelo sentimento de autopiedade. A despeito do que a sociedade faça ou não para promover os direitos do pobre, do idoso e da pessoa com deficiência, o Senhor não os deixou órfãos, desamparados, à mercê das injustiças sociais (Sl 37.25).
O seu trabalho é o que você pensa que ele é (Pv 23.7). Mude os seus padrões de pensamento, e você mudará a sua realidade.
Deus Cuida da família
Podemos enfrentar uma situação profissional crítica por três motivos diferentes: injustiça, merecimento ou circunstância. Mas seja qual for o seu caso, CONFIE EM DEUS. Em qualquer situação, NÃO PERCA A FÉ. Diz a Bíblia: “O justo viverá da fé.” (Hb 10.38). Lembre-se: o trabalho não é o seu patrão, é Deus (Fl 4.19). O dinheiro não é o seu senhor, é Deus (Mt 6.24). É Deus, em Jesus Cristo, que supre todas as suas necessidades (Fl 4.19). É Ele também que te dá forças para adquirir riquezas (Dt 8.18). Se você está no “propósito” de Deus, “as coisas” sempre vão ficar melhores para você. Uma nova direção, algo melhor, prosperidade. Com Cristo você nunca sairá perdendo.
O Universo e tudo o que ele contém não é produto do acaso. Deus fez o planeta Terra pelo Seu poder e por Sua sabedoria o conserva. Deus assegura o desenvolvimento e manutenção da família (Hb 1.3; Sl 36.6; Ne 9.6). Satanás quer levar o homem a duvidar da provisão de Deus, das Suas promessas e do Seu amor. Deseja que ele lute, se preocupe e dependa do mundo para a obtenção do seu sustento, para que fracasse na fé e não receba de Deus o que necessita.
Deus se faz conhecer como Jeová Jireh, o Deus Provedor (Gn 22.7-8, 14-15). Jeová é a tradução aportuguesada para o nome de “Deus” e Jireh é o verbo hebraico para “ver”, traduzido aqui como “prover”. A visão de Deus é provisão. Na verdade, Jeová Jireh é o Deus que vê o futuro e prepara tudo para os seus servos. A isso chamamos de “Providência Divina”. É como um pai que antecipadamente providencia o alimento para seu filho.
No salmo 23, verso 1, Davi diz: “O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará”. Esta é a promessa mais apreciada da Bíblia. Ela nos garante que “nada” nos faltará, o que exclui qualquer possibilidade de escassez. Deus é o Pai que não deixa faltar nada a Seus filhos e por eles trabalha (Is 64.4). Jesus Cristo assim se expressou: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17). O trabalho de Deus Pai e de Jesus em favor do Seu povo é contínuo e interminável.
Conclusão
A missão principal da igreja é evangelizar (Mt 28.19), mas inclui, também, transformar o mundo e a vida das pessoas (Mt 5.13-16). Ninguém pode ser feliz se está doente, com fome ou desabrigado.
A igreja de Cristo tem a Responsabilidade Social de suprir todas as necessidades das famílias com o Evangelho do Reino, isto é, a possibilidade de vida plena aqui e agora.
Faço meus, os votos do apóstolo João: “Amado, desejo que vá bem em todas as coisas e que tenhas saúde, assim como vai bem a tua alma.” (3Jo 2).
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Por: Roberto Marques