Ainda hoje posso me lembrar do meu casamento – foi um dia de magia e encantamento. Era uma tarde ensolarada, numa capelinha envidraçada, no meio de um imenso jardim. Nossos pais, familiares e amigos queridos estavam presentes num clima de intimidade e adoração. Vejo-me de joelhos ao lado de meu marido, sendo abençoados ao som de Jesus Alegria dos Homens, enquanto os últimos raios de sol entravam pela vidraça. Parecia o último capítulo de novela com um final feliz. Mal sabia eu o que estava para vir; ainda bem, pois consegui curtir aquele momento com todas as forças do meu coração. Creio que o dia de nosso casamento é um dos eventos mais significativos de nossas vidas e todos que são ou foram casados estão conscientes de que é o começo de um desafio a ser vivido dia após dia.
As estatísticas mostram que o índice de divórcio cresce cada vez mais. Aquilo que parece tão lindo no dia do casamento pode se converter numa batalha com um final bastante trágico. No entanto, quando aprendemos a trocar o idealizado pelo real, a relação pode se tornar uma trajetória de crescimento pessoal para ambos os cônjuges. O que você vai ler agora são algumas sugestões básicas para evitar a guerra dos sexos no casamento. Posso garantir que funciona, pois depois de trinta e três anos casados, eu e meu marido estamos inteiros, vivendo uma relação saudável e prontos para enfrentar o ninho vazio. Temos dois filhos adultos. Um casado e a outra noiva. Somos avós de uma garotinha de oito meses e aprendemos a incluir nora, genro e seus familiares em nossos relacionamentos.
SAIA DO MUNDO DE ILUSÕES
Quando nos casamos, temos dentro de nós um parceiro idealizado. É uma imagem formada em nosso inconsciente pelos relacionamentos vividos anteriormente. Pode conter a figura dos pais, pessoas que nos influenciaram ou personagens da literatura ou cinema. Ainda vivemos sob a influência do romantismo que surgiu há uns duzentos anos atrás. Quando conhecemos alguém que nos atrai, somos dominados por um sentimento chamado paixão, que não tem muito a ver com o amor verdadeiro. E quando começamos a viver o dia a dia do casamento, geralmente ficamos bastante frustrados. Aí surge a primeira crise do casamento. Por vivermos numa sociedade consumista, pode vir a ideia de que basta trocar de parceiro, assim como se compra uma nova calça jeans e pronto, está resolvido o problema. Por isso alguns jovens se divorciam nos primeiros três anos de casamento.
No entanto, quando possuímos os ensinamentos de Deus e estamos dispostos a obedecer à Palavra, temos que aprender a sair do mundo de ilusões e aceitar nosso parceiro como é, de carne e osso. Também vamos aprendendo quem somos, pois a relação é um espelho. A Palavra nos diz que todos somos pecadores e necessitamos da graça de Deus. Aprendemos a olhar o outro como pecador, que necessita de compaixão e misericórdia.
ACEITE AS DIFERENÇAS
Viver com alguém de outro sexo, que veio de uma outra família e que tem uma história diferente da nossa é realmente um mistério. Geralmente vemos essas diferenças como uma ameaça e queremos superar o outro. É aí que começa a guerra entre os sexos. Creio que um bom exemplo disso é o que acontece no filme “A Guerra dos Roses”. Trata-se de um casal que se conhece num leilão de antiguidades. Os dois estão disputando a mesma obra de arte e ela acaba ganhando. A própria disputa é o fogo que une o casal. Eles se apaixonam e se casam. No começo parece que tudo vai bem. Ele é um excelente advogado e ela sabe encontrar oportunidades para fazer bons negócios. Juntos conseguem construir uma família com dois filhos e um bom patrimônio financeiro. O tempo vai passando e ela começa a se sentir desvalorizada por ele. Resolve fazer seu próprio negócio, pois percebe que tem capacidade. A disputa entre os dois fica cada vez mais acirrada, até que ela pede o divórcio. Aí começam a brigar pelos bens. Os dois querem ficar com a casa e nenhum cede. O final é trágico e cômico. Acabam morrendo juntos.
Isto acontece em muitos casamentos. A mulher se sente humilhada, não valorizada pelo marido, ou vice-versa. Sente-se injustiçada e parte para a briga. Não percebem que podem somar as diferenças, e que a disputa é uma subtração de forças. Então partem para guerra do poder. Ela quer ser tão importante quanto ele.
É bom lembrar que Deus nos criou diferentes: homem e mulher, para um complementar o outro. Basta citar que quatro olhos veem mais do que dois. Foi o pecado que trouxe a discórdia, a luta pelo poder. É Cristo quem nos liberta da natureza pecaminosa para vivermos o fruto do Espírito que é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gálatas 5: 22 e 23).
SAIBA QUEM VOCÊ É
Nós não somos diferentes apenas de nosso cônjuge. Não existe ninguém igual a ninguém. Cada um é único e singular. Por isso precisamos conhecer quem somos: quais nossas necessidades, gostos, vocação, limites, dons e talentos. Quanto mais nos conhecemos, mais temos chance de buscar a superação de nossas necessidades pessoais, sem esperar que nosso cônjuge adivinhe o que estamos precisando. Isso mostra nosso grau de maturidade. Quando me aceito e respeito como sou, posso aceitar meu companheiro como é. Eu posso gostar de ovo frito e ele de omelete. É possível preparar os dois.
NÃO TENTE MUDAR O OUTRO
Muitas vezes temos a falsa ideia de que conseguiremos mudar o outro. Podemos nos concentrar nessa tarefa insana e gastar nossa vida correndo atrás do vento. Estou sempre vendo este fato quando atendo esposas de alcoólatras. Elas vivem uma relação totalmente descontrolada, pois o marido é dominado pela dependência do álcool. Criam a ilusão de que podem mudá-lo. Algumas se tornam verdadeiras megeras. A casa é um campo de batalha onde acontecem brigas, gritarias, surras, facadas e às vezes tiros. Outras se convertem em Amélias, a mulher de verdade: apanham de boca calada, passam fome, são humilhadas e acabam perdendo totalmente sua própria identidade. Nada fazem para mudar sua situação.
Não podemos mudar o outro, mas podemos mudar a nós mesmos. O outro só pode mudar se for uma decisão dele. Diante de situações difíceis como a do alcoolismo, o cônjuge pode buscar ajuda e aprender a confiar em Deus. Abrir mão do controle e aceitar sua própria impotência.
Em casos mais simples, podemos aceitar o outro como é. Se a roupa fica jogada na casa, junte. Cansa juntar a bagunça do outro? Converse. Não teve efeito o pedido? Seja menos crítico e deixe as roupas jogadas pela casa. Só não vale brigar todo dia por causa da louça na pia, dos atrasos para a janta ou se ela falou demais do trabalho. “Ame o outro como ele é. Aprenda com ele, colha o fruto da verdade de ver o outro, e a si, como são”.
É possível haver mudanças? Sim, claro. Mas tudo a seu próprio tempo. Mesmo porque existem partes da pessoa, que são sua marca, sua personalidade. Um torcedor sincero de um time não vai mudar para outro só para agradar sua mulher. E, se mudar, talvez perca a graça.
APRENDA A LIDAR COM A IRA
A palavra de Deus diz: “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Efésios 4:26). Isto quer dizer que ficar irado não é pecado, mas se não resolvermos nossa ira e formos dormir com ela, então estamos pecando. Quem já não ficou irado com o cônjuge? O que estamos fazendo com a ira? Se estivermos simplesmente engolindo, reprimindo, certamente vamos ficar ressentidos e isso se converterá numa compulsão ou numa doença física (doença psicossomática). Se formos dominados por ela e a extravasarmos em cima de nosso cônjuge ou pessoa próxima, estaremos ofendendo, magoando o outro e acabando com nossos relacionamentos.
É necessário aprender a lidar com nossa ira. Em primeiro lugar é bom pararmos e pensarmos antes de tomar qualquer atitude se estivermos irados. Podemos conversar com Deus e entregar imediatamente esse sentimento a ele. Talvez seja possível sair do ambiente e dar uma volta, coordenar as ideias e depois conversar com a pessoa, no caso o cônjuge, que provocou nossa ira. Ao invés de sermos agressivos, podemos ser assertivos, isto é, falar claramente que não gostamos de sua atitude e pedir o que queremos sem ofendê-lo. Se fomos nós que provocamos a ira, devemos pedir perdão e fazer nossas reparações. Provérbios 15:1 diz: “a resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.”
Quando o casal não acerta suas diferenças cada dia, antes de dormir, uma hora o copo transborda e o campo de batalha está pronto: o tiroteio pode ser fatal.
APRENDA A ANDAR A SEGUNDA MILHA
Cristo diz: “Ouvistes o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes” (Mateus 5: 38-42).
Creio que este é um dos textos mais difíceis para o casal cumprir. Principalmente a mulher, num contexto machista, pode se sentir abusada ao tentar fazê-lo. É bom perceber que Cristo está falando de um contexto onde a comunicação é de inteira rivalidade: dente por dente e olho por olho. Quando o casal está vivendo este tipo de comunicação, o único jeito de mudar é fazer o que Cristo fala. Quando um cede e anda a segunda milha, ele introduz uma diferença que causa outra diferença. Então pode haver uma mudança.
Nunca me esqueço de um cachorro que encontrávamos no caminho do sítio do meu sogro. Ele gostava de sair latindo furioso cada vez que passávamos por ali. Meu marido parava o carro e ele ficava todo sem jeito. Parava de latir e voltava para casa. Isso me faz lembrar alguns casais que atendemos no consultório. Eles começam a se agredir e principalmente a mulher costuma ter uma língua muito ferina. Aí eu penso: bastaria ela calar a boca e ele perderia o rumo.
APRENDA A SER CÚMPLICE
Quando estamos realizando nossos sonhos, perseguindo nossa vocação, somos pessoas realizadas e felizes. Nosso cônjuge pode participar dessa felicidade quando se sente incluído ou quando tem grande prazer em nos incentivar. Há sonhos que o casal pode realizar junto e outros que são do campo pessoal. Ambos fazem parte de nosso crescimento. O amor verdadeiro investe na capacidade do outro, naquilo que ele pode vir a ser.
DOE-SE
Existem casais que estão sempre de mãos atadas atrás das costas. Estão sempre esperando receber ao invés de dar. São Francisco diz: é dando que se recebe.
Quando nos doamos ao nosso cônjuge podemos fazer isto com prazer. Se por exemplo alguém está recebendo um carinho através de uma massagem, provavelmente vai relaxar tanto que é capaz de dormir. Aí o outro pode ficar frustrado. Mas se o que doa já sabe disso, aceita o fato com alegria, pois alcançou seu objetivo. Aquele que recebe também pode ser generoso e fazer ao outro aquilo que ele gosta. “Entregue seu amor. Perca a preguiça e parta para a ação, o tempo todo”.
CONFIE E RESPEITE
A confiança no outro está baseada na fidelidade de ambos. No entanto cada um é responsável por ser fiel. Ninguém é dono de ninguém. Se um dos cônjuges se sentir dono do outro, isso pode causar ciúmes, controles e cobranças. A libido é individual, e os cônjuges podem sentir atração por outras pessoas. Exercem a liberdade do que fazer com essa atração. A única coisa que podemos fazer é confiar. Não é o que sentimos, mas o que fazemos com isso que vai contar. Da confiança e do respeito mútuos pode nascer uma fidelidade espontânea.
DESCANSE NA GRAÇA DE DEUS
Somos pecadores e não existe casal perfeito. A carne guerreia contra o Espírito. Por isso a guerra no casamento pode acontecer a qualquer momento. No entanto contamos com a graça de Deus e podemos descansar nela. É através dela que podemos evitar essa guerra, vivendo no Espírito. Sabemos que nosso cônjuge é tão vulnerável quanto nós, por isso podemos orar: Não nos deixe cair em tentação, mas livra-nos do mal.
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Por: Psic. Elza Inácio Dias