A importância de estabelecer limites na criação dos filhos é um consenso. Muitos dos desafios enfrentados por crianças e adolescentes, com reflexos na vida adulta, são frequentemente atribuídos à ausência dessas balizas, especialmente aquelas que deveriam ser impostas pela família. Essa perspectiva é, de fato, correta.
Em um artigo que escrevi para “Casal Feliz” no segundo semestre de 2002, reiterei e continuo a acreditar que definir limites é uma das mais profundas formas de demonstrar amor aos filhos. No entanto, surge uma questão crucial: até onde deve ir a nossa intervenção? Qual é a linha tênue entre a proteção e a invasão da intimidade dos nossos filhos? É fundamental refletirmos também sobre os limites que, como pais, não devemos ultrapassar.
Os Limites da Ação Parental
Consideremos o caso de Marina, uma adolescente de 16 anos. Sempre que ela conversava ao telefone, sua mãe prontamente pegava a extensão para ouvir a conversa. Não raro, ao encontrar a pessoa com quem a filha havia falado, tecia comentários como: “Gosto muito dos conselhos que você dá para minha filha…” ou “Por favor, pare de dar os recados do Marcelo para minha filha”. É legítimo questionar: teria essa mãe o direito de invadir a privacidade da filha adolescente dessa maneira?
Especialistas em educação são unânimes ao reconhecer a importância da privacidade pessoal em qualquer idade. Eles aconselham pais a respeitar esse espaço individual, o que, naturalmente, não anula a necessidade de diálogo franco e conversas abertas.
Amizade e Autoridade: Uma Distinção Essencial
É crucial que os pais compreendam que ser amigo do filho não significa ser um “amiguinho” ou “coleguinha”. Se a nossa relação com os filhos se baseia na premissa de que somos da mesma idade, isso pode nos impedir de estabelecer os limites necessários para o seu desenvolvimento emocional saudável.
Uma pesquisa séria conduzida pelo pesquisador americano Robert Blum com mais de 12 mil entrevistados revelou que o isolamento e a agressividade entre crianças da classe média americana frequentemente derivam da sensação de falta de respeito e amor nas famílias. No entanto, “amor” e “respeito” não devem ser confundidos com excesso de liberdade ou protecionismo.
Segundo o psicanalista Renato Avzaradel, se não houver um limite claro na “amizade” entre pais e filhos, os pais perdem a capacidade de exercer sua função primordial de educar, o que é essencial para a formação de seus descendentes.
Invasões Sutil e Suas Consequências
Observamos pais e mães que inspecionam as carteiras e mochilas dos filhos, escutam suas conversas e examinam suas roupas, buscando encontrar algo “comprometedor”, em vez de simplesmente conversar abertamente com eles. Há também aqueles que fazem confidências íntimas aos filhos com a intenção de, em troca, conhecer a intimidade deles. Essas invasões do espaço alheio podem, muitas vezes, impedir que os filhos se desvinculem da figura materna ou paterna e desenvolvam sua própria identidade.
Os pais devem estar sempre disponíveis para ouvir os filhos, dedicar tempo a eles e demonstrar afeto. No entanto, é imprescindível que respeitem as emoções dos filhos, jamais desconsiderando seus sentimentos como se não tivessem valor. Devemos ter em mente que o ato de compartilhar não nos confere o direito de invadir ou chantagear. Os filhos precisam confiar nos pais a ponto de lhes contar seus problemas, cientes de que serão ouvidos, mas também de que receberão sugestões e orientações. Afinal, os pais devem ser compreensivos, mas nunca coniventes com o que é errado.
A Evolução do Papel Parental
O psicanalista Potiguar da Silveira Júnior afirma que “Mãe é função com data para terminar. Se não for assim, contribuirá para a produção de adultos infantilizados”. Essa sabedoria, sem dúvida, aplica-se igualmente aos pais.
É crucial estar alerta e possuir a sabedoria para perceber quando nossos filhos deixaram de ser crianças, quando estão atravessando a adolescência e quando já são adultos. Em cada fase da vida, precisamos respeitá-los como indivíduos para que eles, por sua vez, nos respeitem. Agressividade gera agressividade, desrespeito gera desrespeito, e a indiferença gera indiferença.
Sejamos pais coerentes, perdoadores, afetuosos, educadores e cultivadores do diálogo respeitoso. Sejamos amigos, mas nunca cúmplices dos erros de nossos filhos, lembrando sempre que, assim como existem limites para eles, também existem limites para nós.
Atendamos à sábia recomendação encontrada na carta aos Efésios 6:4: “E vós, pais, não provoqueis os vossos filhos, mas criai-os na disciplina e admoestação do Senhor.”
Por: Inez Bellan
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