Um dia desses, enquanto comprava um saco de argamassa em uma loja de construção, deparei-me com uma pequena estante de madeira repleta de livros usados. Ali, descobri um belo projeto comunitário de incentivo à leitura, coordenado pela pedagoga Daniele Santos, na cidade onde moro, São Pedro da Aldeia.
A ideia era simples e inspiradora: quem chegasse ali podia pegar os livros que desejasse, contanto que assumisse o compromisso de lê-los e, se quisesse, devolvê-los para que outras pessoas pudessem se beneficiar. Que iniciativa louvável da Daniele!
Eu, que não resisto a um bom livro, parei imediatamente e comecei a observar os títulos disponíveis. Encontrei excelentes exemplares, muitos deles ainda atuais no mercado. Um deles era o famoso “As Cinco Linguagens do Amor”, de Gary Chapman. Embora já o tivesse lido, decidi pegá-lo para presentear um casal de amigos.
Antes de entregá-lo, porém, li a dedicatória que ali estava escrita. Ciro e Margarida (nomes alterados) haviam oferecido o livro ao casal Marcos e Juliana (nomes também alterados). A dedicatória dizia: “Hoje, com certeza, é um dia muito feliz para vocês. Desejamos que essa felicidade se estenda por toda a vida, e este livro poderá ajudá-los a conservá-la. Que Deus os abençoe. Com Carinho. Ciro e Margarida.”
O livro havia sido presenteado em uma cidade do Espírito Santo, em 1º de setembro de 2007. Imediatamente, algumas perguntas me vieram à mente: Será que aquele dia especial era o dia do casamento? Será que Marcos e Juliana leram, de fato, o livro? E, principalmente, como estão eles hoje?
O exemplar estava praticamente intacto, sem nenhuma anotação ou marcação de um pensamento importante, dando claros sinais de que, infelizmente, não havia sido lido. No entanto, esse livro é um clássico que aborda, de forma simples e profunda, como os casais podem demonstrar amor e fortalecer seu relacionamento. As cinco linguagens identificadas por Gary Chapman são: Palavras de Afirmação, Tempo de Qualidade, Receber Presentes, Atos de Serviço e Toque Físico.
Gostaria, de coração, de conhecer tanto o casal que doou o livro quanto o casal que o recebeu. Especialmente Marcos e Juliana, e saber como estão hoje. Se o livro foi um presente de casamento, em breve eles celebrarão 20 anos de união – isso, é claro, se permaneceram casados. Se não, gostaria de entender as razões da separação e, quem sabe, perguntar-lhes se leram o livro. Se sim, se colocaram em prática os conselhos do autor. Se não, por que não há nenhum vestígio de leitura e por que o livro veio parar em São Pedro da Aldeia, distante 273 quilômetros da cidade onde foi presenteado.
Saí da loja de material de construção com o livro debaixo do braço e com todas essas reflexões na cabeça – e, claro, com o saco de argamassa também. O livro de Gary Chapman, com seus conselhos sobre as linguagens do amor, é como essa argamassa para o relacionamento. Ele oferece os princípios e as práticas que ligam um coração ao outro, que preenchem as lacunas e que permitem que a estrutura do amor resista às intempéries. O fato de o livro de Marcos e Juliana estar intacto e não lido, me fez pensar que, talvez, a “argamassa” essencial para a manutenção de seu matrimônio tenha permanecido dentro do saco, intocada. Que a ausência de vestígios de leitura seja um triste indicativo de uma união que, por falta de aplicação dos fundamentos, correu o risco de não se solidificar ou de se desfazer.
Perguntas para reflexão:
1 – Quantas “argamassas” (ferramentas, conhecimentos, conselhos) temos em nossas mãos para construir algo bom em nossa vida ou relacionamentos, mas as deixamos intocadas?
2 – Pensando nos seus próprios relacionamentos, quais “linguagens do amor” ou atos de “mordomia” você tem praticado ou negligenciado ultimamente?
3 – O que estamos perdendo (ou deixando de construir) quando não damos atenção e aplicamos os “alicerces” que nos são oferecidos?
Por: Gilson Bifano