No Brasil, no segundo domingo de agosto é comemorado o Dia dos Pais. Nos Estados Unidos, no terceiro domingo de junho. Em Portugal, Espanha e Itália, no dia 19 de março. No Brasil, foi celebrado pela primeira vez no dia 16 de agosto de 1953, idealizada na época por um influente publicitário, e foi pensado a fim de associar a data ao dia de São Joaquim, pai de Maria, mãe de Jesus Cristo, segundo o calendário litúrgico da Igreja Católica Romana e para movimentar o comércio. No entanto, nos anos seguintes, a data foi deslocada para o segundo domingo do mês de agosto e assim permanece fixa até hoje.
O que essa data significa para você, mulher? Confesso que escrever às mulheres sobre paternidade não é uma tarefa muito fácil, principalmente porque é impossível saber qual é a imagem que você tem da figura masculina. Antes de tratar da importância da figura paterna para os filhos, é preciso refletir sobre a importância deste papel para você, mulher. Muitos homens já passaram (e ainda vão passar) pela sua vida, a começar da primeira representação masculina, a do seu pai. Depois, vieram outros. Que marcas esses homens lhe deixaram? Qual a melhor recordação que você tem do seu pai? Se você é mãe, como é pai dos seus filhos?
Você sabe quantos pais temos no Brasil, em números absolutos? O dado mais próximo que encontrei está em números percentuais. Segundo último levantamento do IBGE, realizado em 2019, cerca de 64,6% dos homens com mais de 15 anos já tinham pelo menos um filho. A população masculina é de (49.2%), ou seja, somos um pouco mais de 111 milhões de homens. Fiz uma rápida projeção, sem muita base científica, e conclui que cerca de 70 milhões de homens brasileiros são pais. Será que todos esses estão sendo homenageados ou lembrados por seus filhos e, principalmente pelas mães dos seus filhos?
O interessante é que em minha pesquisa descobri que 7 em cada 10 mulheres são mães no Brasil. Mas o que me causou espanto e preocupação foi saber que existem mais de 11 milhões de mães que criam seus filhos sozinhas, são as chamadas “mães solo” ou “pães”. Onde estão esses pais? Por que não estão presentes? Será que são presentes? Por que não assumiram a paternidade? Por que abandonaram a mãe dos seus filhos?
Não podemos negar a omissão masculina. Não podemos negar que muitos pais não são bons exemplos para as mães de seus filhos e, consequentemente, para os próprios filhos. Mas também não podemos negar que há uma ação orquestrada na sociedade para desqualificar a figura masculina. Essa desvalorização tem levado muitos homens a abdicarem totalmente de qualquer responsabilidade conjugal e dever para com os filhos que geram, e isso tem causado problemas familiares e reflexos sociais: desordem, inversão de papéis e de valores. Enquanto homens perdem respeito e confiança, mulheres ganham empoderamento e supremacia. Nessa guerra de sexos, os dois saem perdendo. E quando há crianças envolvidas, o mal é ainda maior.
Precisamos reconhecer que, quando Deus projetou a família, Ele pretendia que em cada lar tivesse uma mãe e um pai e Ele deu papéis diferentes a ambos. Reponsabilidades que se complementam, sem rivalidades e contendas. Homens e mulheres, aqueles que receberam de Deus a oportunidade de ser pai e mãe, sendo casados ou não, precisam entender que devem ser parceiros na criação, na educação e no desenvolvimento dos filhos. Enquanto a mulher é a portadora da vida, o homem é o doador da vida.
Na Bíblia temos exemplos negativos e positivos de pais. Adão, o primeiro homem; o sacerdote Eli e o rei Davi, o homem segundo o coração de Deus, são lembrados por seus erros e fracassos. Porém, há muitos que honraram a paternidade, apesar das suas limitações e imperfeições: o patriarca e pai da fé Abraão, o paciente Jó e José, o padrasto de Jesus. A mais conhecida parábola bíblica de Jesus, a do filho perdido, teve um pai exemplar.
Os livros de Samuel contêm alguns personagens principais: Ana, Samuel, Eli, Saul, Jonatas e Davi. Elcana, marido de Ana, é um dos personagens menos citados, porém foi usado por Deus para uma missão bem específica. Às vezes, pessoas pouco notadas desempenham um papel muito importante em um cenário maior. Esse homem nasceu para ser pai, cumpriu muito bem a sua função, conduziu sua família à adoração a Deus, cuidou da sua esposa e que cumpriu bem o papel paterno.
Mas Elcana não era um homem perfeito. Ana não lhe gerava filhos, o que o levou a manter relações com a serva Penina. Esse triângulo amoroso e sexual gerou um grande problema doméstico. Ele seguiu o exemplo negativo de Abraão e Jacó. Vale lembrar que a poligamia nunca foi autorizada e abençoada por Deus, mas permitida. Segundo a Lei do Levirato, se o primeiro casamento do homem não lhe trouxesse filhos, ele podia casar-se com outra mulher para ter filhos com ela (Dt 21.15-17; 25.5-10). Elcana vivia entre os ciúmes e as brigas de suas duas mulheres.
Há homens que são fiéis à esposa, mas a traem do mesmo jeito. Não com outra mulher, mas com o trabalho, com a igreja, com o carro, com o estudo, com o futebol, com a pescaria, com o churrasco…
Com base na história de vida de Elcana, há, pelo menos, três legados que encontro sobre a importância da figura paterna na vida da mulher e dos filhos.
Elcana foi um pai atento à fé da sua família (1 Sm 1.3): Três vezes por ano, todo israelita do sexo masculino tinha a obrigação de comparecer diante do Senhor no santuário. Elcana levava o seu sacrifício para apresentar diante do sacerdote. Ele era um homem devoto, religioso, entendia a liderança espiritual que deveria exercer diante da sua família. Ele era um chefe de família exemplar, consciente de seus deveres, tanto conjugais como espirituais.
Ele conduzia sua família à adoração a Deus. Apesar de saber que o sacerdote, no templo, tinha uma função muito específica e importante, ele sabia que era sua prerrogativa levar sua família ao exercício da fé.
Em casa, esse papel pode ser exercido tanto pelo pai como pela mãe, mas precisamos entender que a prerrogativa, a iniciativa precisa ser do pai, do homem. Esse é um papel que tem sido negligenciado por muitos homens, casados ou não. É papel do homem ser o sacerdote da sua casa. Sacerdote é aquele que é separado por Deus para comunicar a sua voz e o seu coração ao povo; primeiro, à sua família; depois, aos demais.
Elcana foi um pai atento às necessidades da sua esposa (1 Sm 8,19,23): Elcana era um homem virtuoso, um marido que observava o comportamento da sua esposa, sempre atento às necessidades emocionais, materiais, fisiológicas e, principalmente, espirituais. Ele percebeu que sua mulher não estava bem e ele não se calou, fez perguntas: Por que choras? Por que não comes? Por que está triste o teu coração? Não sou eu melhor do que dez filhos? Perguntas pressupõem observação, análise, preocupação.
Homens, geralmente, não são bons observadores, não gostam de fazer perguntas, são desatentos e falam pouco. Elcana foi diferente e esteve durante todo o tempo ao lado da sua mulher. Ele protegeu sua esposa e a supriu.
A oração sempre é a melhor companhia para o choro. Por melhor marido que Elcana fosse, Ana queria filhos. Com amargura de alma ela orou ao Senhor e o seu pedido foi atendido.
Elcana foi um pai atento à vocação do seu filho (1 Sm 2.11): Elcana foi um homem muito consciente do chamado do seu filho, apoiou sua mulher e não impediu que Samuel obedecesse ao chamado. Junto com sua esposa, em uma linda parceria, honraram o voto e consagraram o filho para o serviço na Casa de Deus. Deixaram o menino no templo para ser o auxiliar do sacerdote Eli. Anos depois, Deus chamou Samuel para o ministério e este se tornou juiz, sacerdote e profeta em Israel. Samuel foi o responsável em chamar e ungir os dois primeiros reis de Israel, Saul e Davi.
Além de estar atento à vocação do filho, Elcana respeitou o desejo da sua mulher e soube exercer o seu papel. Precisamos de homens que cumpram com equilíbrio e sabedoria a missão que Deus lhes determinou. Precisamos de homens com uma masculinidade saudável.
CONCLUSÃO: Um dos melhores exemplos e legados que um pai pode deixar à sua família é ser um bom esposo para a mãe dos seus filhos e um bom pai para os seus filhos. Toda criança necessita tanto de uma referência feminina como masculina. Depois de ler, compartilhe este artigo com um pai, o seu pai, o pai dos seus filhos, o pai dos seus netos…
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Por: José Paulo Moura Antune – Pastor da Primeira Igreja Batista de Madureira, RJ, 1º vice-presidente da Convenção Batista Carioca, Psicólogo Clínico, esposo da Maura Rute e pai do Davi, 25 anos, e Isabel, 20 anos.
@pr.paulomoura