Um frio me percorre a alma e sinto uma dor no coração quando ouço ou leio a respeito de notícias sobre abuso sexual a crianças e adolescentes.
Mas isto é um fato; não temos como e não podemos fugir dele. Como psicoterapeuta ou conselheira, tenho constatado o quanto isto é concreto e sério.
Marcas indeléveis ou até mesmo incuráveis são deixadas em muitas almas de crianças frágeis, indefesas e inocentes que se tornam adultos profundamente infelizes e cheios de culpa por algo que não puderam evitar.
Torna-se cada vez mais gritante a necessidade de falarmos sobre o assunto, pois os abusos sexuais acontecem dentro de nossas próprias casas, numa proporção muito maior do que imaginamos praticados por pessoas com personalidades doentias, que podem ser empregadas domésticas, tios, padrastos, amigos próximos, avós e até mesmo pais.
Precisamos proteger nossas crianças e a forma mais eficaz é a orientação. Com linguagem simples e clara precisamos dizer a nossos filhos e filhas que ninguém tem o direito de tocar as partes íntimas de seus corpos e que beijinhos só podem ser dados no rosto.
As pessoas que abusam sexualmente das crianças geralmente são “boazinhas” demais com elas na frente dos outros; quando sozinhas, são chantagistas e ameaçadoras, proibindo a criança de falar sobre o que acontece com os outros, sob pena de passar por mentirosa. No entanto, o índice de crianças que mentem sobre esta questão é muito pequeno. Infelizmente, na maioria das vezes, é verdade e quando ela chega a falar sobre o assunto é porque está no limite do medo, da culpa e da dor.
Alguns sintomas podem ser observados e devem servir de alerta: insônia, pesadelos, medo, tristeza, déficit de aprendizagem, agressividade, problemas com a alimentação, aversão a adultos e masturbação estão entre eles.
Ao descobrir o abuso, os pais devem ter calma, mas agir. A criança vai precisar de proteção, amor e carinho. Nunca se deve criticar a criança ou acusá-la do ocorrido – ela não tem culpa. Os pais também não devem se sentir culpados, pois isso não vai ajudar em nada; se não puderem lidar com o assunto, que busquem ajuda profissional para si e para a criança, para ajudar a superar o trauma. A ABRAPIA mantém um telefone disponível para casos de denúncia: (0800) 99 0500.
Geralmente a tendência é ninguém falar nada sobre o abuso para evitar constrangimentos. Mas é necessário falar. A pessoa precisa saber que não está mais no anonimato, que precisa de tratamento psicológico ou até mesmo psiquiátrico, que o que fez não é normal, não é certo e que fez feridas profundas na vida de pessoas. É preciso coragem e determinação para falar, pois se continuar, mais cedo ou mais tarde, molestará outras crianças.
Quem sabe, se fizermos um esforço, conseguiremos enxergar muitas coisas que não queremos ver dentro de nossas casas ou de nossas igrejas.
“O que tem ouvidos para ouvir, ouça”!
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Por: Psic. Elizabete Bifano