Jantar com amigos

“Jantar com Amigos” é um filme americano, baseado na peça e roteiro de Donald Margulies.

Karen e Gabe, Tom e Beth formam dois casais que tem uma profunda amizade. Numa noite em que são convidados para jantar na casa de Gabe e Karen, Beth chega somente com o casal de filhos, pois Tom teria viajado. Durante o jantar a bombástica revelação de que Tom estava deixando Beth deixa o casal de amigos ao mesmo tempo triste e indignado.

Depois que Beth vai embora, Tom e Karen dão início a uma discussão, num julgamento a respeito do “traidor”. Sentiam-se também traídos. Perdoar ou não perdoar? Valeria a pena ouvir ou não a outra versão da história? E os princípios de vida familiar no qual acreditavam?

A partir daí, uma série de conceitos, idéias e valores a respeito de relacionamento conjugal, casamento e família vão sendo colocados através de diálogos excelentes. No decorrer do filme, eles passam de amigos inseparáveis a quase desconhecidos, tamanha a diferença de conceitos e valores que cada pessoa e casal escolhe para si.

Ainda naquele dia, mais tarde, Tom bate a porta do casal de amigos. Porém ele não havia ido lá para ouvir conselhos, mas para jantar e tentar encontrar o apoio dos amigos.

Enquanto se desenrolam as cenas em que cada um conta a sua versão da história seus discursos são tão convincentes, que um espectador mais desatento deixaria se seduzir por eles. Afinal, quem pode ir contra tal argumento: “De um lado uma mulher que me faz sentir bem; do outro, uma que me faz sentir um lixo. Qual você escolheria?”

É bem interessante ouvir isso. Será que há mesmo uma escolha, após uma pessoa haver se casado e tido filhos?

Após alguns meses sem se verem, Karen vai almoçar com Beth e Gabe com Tom. Nos diálogos que se seguem, tanto Beth quanto Tom faz parecer que a outra pessoa com quem está se relacionando é perfeita – é tudo o quanto precisavam. Entretanto, estavam apenas começando um novo relacionamento. Na realidade, este é apenas um fetiche no qual as pessoas se agarram para mascarar a realidade. Na vida real é preciso estar consciente de que todos os casamentos passam por crises, que mais cedo ou mais tarde todos os casais passam por problemas.

É interessante observar o quanto aqueles amigos ficam distantes. O assunto entre eles já não combina. Enquanto Beth e Tom estão deslumbrados com seus namoros, Karen e Gabe continuam a acreditar que o casamento é a família são dignos de respeito e sacrifício. Isto fica claro quanto Tom se queixa: “Já não bastava o peixe, dois gatos e um preá. Tinha de ter um cachorro. Passei a vida adulta limpando algum tipo de cocô”. E Gabe retruca: “A gente faz sacrifícios pelos filhos. É o preço de ter uma família”. Este diálogo nos faz refletir sobre o que as pessoas imaginam que seja uma vida familiar. Parece que Tom se cansou dos sacrifícios que tinha de fazer por causa da esposa e filhos. Então, resolveu repudiar a vida adulta e isso incluiu a família.

“Nunca pensou em desistir?” Pergunta Tom. “Já. Mas a sensação passa.” É a resposta de Gabe. Então, calçado nesta resposta do amigo, Tom tenta dissuadi-lo para que ele veja que seu casamento também é ruim. Mas Gabe está atento e rebate numa eloqüência e profundidade que nos faz refletir bastante. Para constar isto, eis a seqüência de sua fala:

“Sou maluco por Karen, maluco por ela. Imaginar minha vida sem ela não me excita.

Tudo passa tão rápido…

O cabelo vai embora, a cintura também, a força…

Ficamos acordados até tarde, vendo um filme…

Quem liga para sexo?

Quer que eu detone isto?

Karen está na pré-menopausa. Mas ainda é meu amor. Eu a amo. A garota que vivia tomando sol está tendo calores.

Não parece possível. Passa a juventude inconsciente e sente-se mortal…

Alguns ficam inconscientes, outros explodem lares e outros aprendem piano…

Estou a aprendendo a tocar piano.

E assim acontece na vida real também. Vemos alguns desistirem e muitas vezes parece tentador desistir também. Mas é sempre possível aprender a tocar piano. É sempre possível olhar e ver quanta beleza, poesia e arte há numa família construída por dois.

Ao analisarmos o casamento de Karen e Gabe fica fácil identificar o que foi acontecendo no casamento deles. Eis a opinião de Karen: “Questões práticas começam a gerar abandono.” E, forçando Gabe a conversar com ela, pergunta: “Como nos perdemos?” Imediatamente Gabe identifica o que aconteceu e retoma uma brincadeira antiga, que havia ficado esquecida por causa das questões práticas do dia a dia.

Ao analisarmos o que aconteceu com o casamento de Beth e Tom fica difícil identificar quem começou a detonar o casamento primeiro. Foi uma seqüência de faltas e erros, de ambas as partes, que pôs fim a um casamento de 10 anos.

E ao analisar seu casamento, a que conclusão você chega?

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Por: Psic. Elizabete Bifano.

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