Papéis no Casamento: Encontrando Equilíbrio e Intimidade

Todo tipo de relacionamento, para ser saudável, requer papéis claros e definidos. Isso não significa que devam ser rígidos; é essencial que haja flexibilidade, adaptando-se às mudanças de contexto. O mesmo se aplica aos papéis conjugais: as responsabilidades de cada cônjuge devem estar claras. Se surgir uma necessidade que não se encaixe no que foi estabelecido, a adaptação é necessária. No caso de um dos cônjuges adoecer e ficar impossibilitado de exercer seu papel, o outro pode assumi-lo. Contudo, assim que se recuperar, o ideal é que a divisão de tarefas retorne ao arranjo anterior.

Esses papéis também se transformam à medida que a cultura evolui, e neste início de século, testemunhamos rápidas mudanças. De forma generalizada, a mulher tem conquistado espaços antes predominantemente masculinos: nas universidades, na política e no mundo profissional. Esse movimento intensificou-se, principalmente, após a Segunda Guerra Mundial e a revolução feminista, que buscou a igualdade de direitos entre ambos os sexos. Parece que o homem, em certa medida, sente-se perdido ao tentar adaptar-se a essa “nova mulher”, e, atualmente, os casais buscam um novo arranjo para os papéis conjugais. No entanto, o resultado desse processo não parece ser totalmente satisfatório. Embora tenha trazido benefícios significativos para a mulher, observamos um número crescente de divórcios. A luta da mulher por seus direitos, paradoxalmente, acentuou a disputa de poder entre os sexos, uma dinâmica que, segundo a narrativa bíblica, teve início no Éden após a Queda.

Acredito que a satisfação no relacionamento conjugal não se baseia em uma disputa, mas sim em uma complementaridade entre o feminino e o masculino, onde tanto as igualdades quanto as diferenças são aceitas e integradas na busca de uma intimidade que os leva a se tornar uma só carne. Devido à influência do pecado, essa integração muitas vezes não se concretiza. O que prevalece é uma confusão, gerada pela fusão de identidades e, consequentemente, de papéis.

Para superar essa confusão, gostaria de sugerir cinco princípios fundamentais para a saúde e a sobrevivência do casal:

Primeiro:
Igualdade Fundamental

A formação de um casal saudável depende da capacidade de cultivar um senso de igualdade entre as partes. Essa igualdade se fundamenta na criação. Gênesis 1:27 relata: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” Portanto, ambos são iguais como imagem de Deus e distintos por serem masculino e feminino, o que gera a possibilidade de uma relação autêntica, do encontro entre o Eu e o Tu. Isso contraria a ideia, bastante arraigada, de que o casal se baseia em uma desigualdade, o que pode levar à formação de relações de dominação/submissão, tais como vítima/algoz, enfermeiro/paciente, entre outras.

Segundo:
Integração de Aspectos e Distinção de Função T

anto o homem quanto a mulher possuem aspectos intuitivos e cognitivos. Para que o relacionamento funcione da melhor forma, essas dimensões devem ser desenvolvidas e integradas. No passado, os homens eram frequentemente designados ao papel cognitivo e as mulheres ao intuitivo. Assim, parecia que eram necessárias duas pessoas para formar uma só. Contudo, o conceito de “ser uma só carne” não se refere a isso, mas sim à formação de uma nova identidade, que é o casal em si (o encontro de duas totalidades distintas – masculino e feminino). Se o homem for apenas a parte cognitiva, teremos um homem sem coração. E se a mulher for apenas a parte intuitiva, teremos uma mulher sem razão.

Efésios 5:22-33 apresenta uma estrutura funcional para o casal. O homem é o cabeça da mulher, assim como Cristo é o cabeça da igreja, e a mulher deve se submeter à sua liderança. Isso se refere à distinção de função ou papel. Tal distinção não coloca a mulher em posição de inferioridade em relação ao homem, mas sim em um lugar de proteção, onde ela pode receber o amor dele.

Quando se interpreta que o homem, sendo o cabeça, deve pensar e decidir pelos dois, cria-se um arranjo que “requer a morte do eu” em prol de uma “segurança amorosa”, o que pode acarretar efeitos colaterais catastróficos, tais como sentimentos de culpa, ansiedade e medo. Disso surgem sintomas que apontam para a necessidade de ambos se tornarem pessoas completas. Cada membro do casal precisa encontrar sua própria identidade, e isso implica uma mudança radical de consciência. Uma relação saudável só pode se estabelecer entre duas pessoas que se sintam de igual valor uma em relação à outra.

Terceiro:
Identidade não é Papel

Identidade não deve ser confundida com papéis. Historicamente, o papel tem sido o fator mais importante na estruturação da identidade. Quando se pergunta a uma pessoa quem ela é, é provável que responda em termos de papel: “sou mulher de fulano de tal”, “sou marido”, “sou médico”, “sou dona de casa”, etc. Embora o papel descreva o que a pessoa faz, o “si mesmo” precede o papel. Nosso nome aponta para nossa identidade, e não para nosso papel.

Essa confusão também teve início com o pecado. Quando Deus cria o homem, Ele o chama Adão (homem), e quando cria a mulher, Adão a chama de mulher (auxiliadora idônea). Após o pecado, Adão muda o nome da mulher para Eva — mãe de todos os seres humanos. Ele passa a vê-la não como pessoa, vocacionada para ser companheira e, juntamente com ele, dominar a terra, mas como uma função: mãe. E nas palavras que Deus dirige a Eva, há uma constatação: “Seu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.”

A partir daí, vemos a mulher dividida entre seu desejo pelo marido e a busca de sua própria identidade. Ela já não sabe mais quem é. Adão também não, pois nossa identidade é percebida na relação com o outro. Ambos estavam perdidos (Gênesis 3).

Atualmente, os papéis mais perigosos são aqueles que definem homem e mulher de forma rígida e patológica. Por exemplo: “homem não chora, senão é um maricas”; “menina que não brinca de boneca é moleque”. Isso pode levar à rigidez de papéis na relação conjugal. Assim, observamos homens “machões” que não conseguem demonstrar afetividade, ou mulheres que não conseguem exercer autoridade.

Se homens e mulheres puderem ter sua identidade restabelecida na pessoa de Jesus Cristo, onde “não há homem nem mulher” (Gálatas 3:28), poderão voltar a ser pessoas por inteiro. O homem poderá ter acesso a seus sentimentos e não precisará canalizar tanta energia para a aquisição de status e poder, nem dependerá da mulher para gratificação emocional.

Quarto:
A Importância da Autoestima

Uma boa autoestima é o fundamento para as decisões sobre como se comportar. Quando um cônjuge cobra muito do outro, isso provavelmente está ligado a uma baixa autoestima, resultado de experiências vividas desde a infância. Podem ficar presos um ao outro, em um encaixe psicológico que remete a seus modelos infantis. Nesse caso de projeção, o parceiro está lidando com a ideia que tem do outro, e não exatamente com o outro real. A saúde do relacionamento corresponde à capacidade de lidar com a pessoa real.

A autoestima precisa ser restaurada. Isso pode ser alcançado ao se ir ao encontro dos desejos do coração, tendo como fundamento a aceitação do amor de Deus. Mas, às vezes, é preciso procurar ajuda profissional para enfrentar as defesas e conseguir expressar medos e ansiedades sem correr o risco de ser rejeitado. Se o casal conseguir isso, poderá então alcançar um nível mais profundo de intimidade.

Quinto:
A Dimensão Espiritual

As pessoas são seres espirituais. Deus criou o homem e a mulher de forma distinta dos animais. Ele soprou de Seu Espírito em suas narinas, e a partir daí algo de divino foi inserido neles. Por isso, as pessoas são vida em ação e, consequentemente, protagonistas de sua própria história.

Isso oferece a possibilidade de mudança por meio da graça. Quando cada membro do casal for capaz de olhar para o outro como imagem de Deus, certamente cultivará um profundo respeito por ele. Sentirá paixão e compaixão. Aceitará as diferenças como algo a ser somado, e não como um defeito. Poderão então desempenhar cada um seu papel, sem a necessidade de disputar. Aprenderão que o amor investe no potencial do outro, sempre na esperança daquilo que pode vir a ser.

Por: Elza Inácio Dias
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