Uma das mais importantes tradições familiares são sem dúvida, as refeições em família. Se queremos, como famílias, resgatar esta importante tradição familiar é preciso determinação e disciplina. A propósito, transcrevemos abaixo um importante texto que aborda a questão.
Escrito por Marianne Jennings e publicado no livro ‘Os 7 hábitos das famílias muito eficazes’, o artigo ‘À mesa da cozinha’ há de trazer uma reflexão sobre o tema. O nosso desejo é que as lembranças de Jennings sirvam de estímulos para conservar esta tradição familiar tão importante para o fortalecimento da família.
“Eu cortei o tecido para o meu casamento no mesmo lugar em que decorei as regras da ortografia. No mesmo lugar em que comia biscoitos Archway todos os dias, depois da escola. Meu futuro marido era atormentado impiedosamente no mesmo lugar. Muito de tudo o que aprendi e que me é tão caro está indissoluvelmente ligado à mesa da cozinha. Esta peça de mobiliário, gasta e arranhada, era uma pequena parte física do meu lar. Contudo, quando me lembro de tudo o que fizemos ali, percebo que foi a chave da vida que tenho hoje.
Todas as noites, na minha juventude, foi sentada à mesa da cozinha que contei os acontecimentos do dia. “Quando virá o próximo boletim?” “Você arrumou aquela bagunça do porão?” “Estudou piano hoje?”
Se quisesse jantar, era obrigada a aceitar o interrogatório que o acompanhava. Não havia como escapar da confrontação noturna e da cobrança das minhas responsabilidades.
Mas, aquela mesa da cozinha não constituía apenas uma fonte de medo, era também o “meu cobertorzinho de segurança”. Não me importava quanto me sentisse desanimada por causa dos “sapos que engolira” durante o dia, a mesa da cozinha e os adultos que dela cuidavam estavam lá todas as noites para me consolar e me amparar.
O medo gerado pela crise dos mísseis cubanos e pelo meu quarto exercício de treinamento contra ataque aéreo numa única semana desapareceu na certeza diária de uma família reunida em torno daquela mesa, sobre a qual havia pêssegos enlatados Del Monte, rosquinhas em forma de trevos e margarina. Não importava a agenda do dia ou suas exigências, a mesa da cozinha nos reunia para a “chamada” das seis horas de todas as noites.
E, depois de concluir a minha enfadonha tarefa de lavar os pratos numa época em que as máquinas de lavar louças eram uma novidade, eu voltava para a mesa, agora para “queimar as pestanas” com o dever de casa. Eu lia as histórias de Dick, Jane e Spot em voz alta para o pai, que não fazia a “lição de casa” dele, enquanto eu fazia e reescrevia as tabuadas que decorava diariamente.
Todas as manhãs, aquela mesa me enviava para o mundo, alimentada e severamente inspecionada – unhas limpas e roupas Bobbie Brooks bem passadas. Ninguém saía daquela mesa sem nenhuma revisão nos eventos e tarefas marcados para o dia. A mesa da cozinha nutria. Era a minha constante em meio às inseguranças dos dentes encavalados, do fato de ter mais sardas do que pele, da reunião do grupo de geografia sobre as capitais dos Estados.
Anos se passaram desde meus dias de casacos de lã Black Watch e meias soquetes brancas. A vida me brindou com mais desafios, alegrias e amor do que eu poderia sonhar quando as minhas pernas tremiam debaixo da mesa da cozinha sob o interrogatório de meus pais. Quando volto à casa deles para visitá-los, sempre me demoro depois do café da manhã para desfrutar sua companhia em torno da mesa da cozinha. Depois do jantar, a louça espera enquanto meu pai e eu discutimos de tudo.
E então, pouco depois de devolvermos à cozinha sua condição de imaculada limpeza de antes do jantar, meus filhos voltam. Nós nos sentamos juntos, três gerações, diante de sorvetes com calda derretida , e integro esses novos rostinhos à velha mesa da cozinha.
Então, eles contam ao vovô sobre seus testes escolares e sobre as palavras que erraram. E o vovô denuncia:
Sua mãe errava as mesmas palavras. Nós nos sentávamos bem aqui e fazíamos uma revisão geral. Ela continua errando.
O problema talvez esteja nos genes. Ou talvez na mesa da cozinha. O simples e mágico lugar onde aprendi responsabilidade e senti amor e segurança.
Quando luto todas as noites para reunir as crianças, espalhadas pelos quatro cantos da vizinhança, para jantar à mesa da minha cozinha, pergunto-me por que simplesmente não os mando para seus quartos com um prato de pastelão de galinha e o programa na TV. Não faço isso porque lhes estou dando o presente da mesa da cozinha.
Em todos os tratados sobre educação de filhos, em todos os estudos psicológicos sobre o desenvolvimento infantil, e em todas as informações sobre auto-estima, esse humilde segredo da educação dos filhos permanece esquecido.
No ano passado, minha filha disse que, em sua classe, só ela e uma colega tinham o hábito de jantar todas as noites com a família, à mesa da cozinha.
Ambas são as melhores alunas da turma. As outras crianças, minha filha explicou, “descongelam alguma coisa no microondas e então vão comer no quarto, assistindo TV”. Elas não têm companhia, nem interrogatórios – apenas o programa de TV e as notas que não conseguiram. Como é triste o fato de que nem todas as crianças têm a vida tocada pelo milagre da infância. Existe algo especial na mesa da cozinha.”