Há alguns anos lendo a revista “Você S.A.” deparei-me com um texto extremamente interessante sobre as relações humanas no âmbito profissional. Gostaria, portanto, de pegar um “gancho” no artigo e fazer uma reflexão voltada ao relacionamento conjugal utilizando perfis de posturas tratados no artigo em questão.
Sabe aquela história de que cada um de nós tem um anjinho e um diabinho sussurrando o tempo todo, um em cada ouvido? Apesar de ser absurda a crença nesta realidade, às vezes, é assim que alguns agem na relação conjugal. Pessoas divididas entre investir ou não no casamento. Alguns já perderam a esperança, tornaram-se pessimistas, outros, no entanto, não vêem a necessidade em aprofundar a relação, meditar, refletir, pessoas que acham que nada pode acontecer na relação, são inocentemente otimistas!
Nesta realidade entra em cena o diálogo existencial entre duas “leis” criadas pela imaginação humana,
. Murphy é um sujeito imaginário, provavelmente uma criação coletiva do século 20, que dá origem a famosa lei de Murphy: “Se existe uma remota chance de alguma coisa dar errado, ela dará”. A esta lei atribuo aqueles casais que não encontram mais sentido no casamento e que vivem juntos uma indiferença “murphyana”. Por outro lado, Pangloss, criação individual de Voltaire, pensador francês do século 18, leva o otimismo ao ridículo. Este personagem de um de seus livros, chamado Cândido ou Otimismo, passa a idéia que nada pode acontecer que venha destruir a caminhada humana.
Temos encontrado esta realidade no trabalho com casais. Posturas adotadas que podem refletir no sucesso ou insucesso dos relacionamentos.. Já os casais que têm dificuldade em confrontar seus problemas, investir no relacionamento, poderíamos dividi-los em duas correntes: os “murphyanos”, que crêem que nada pode ser revertido e os “panglossianos” que pensam que sabem tudo sobre relacionamentos conjugais e/ou que nada pode acontecer.
As igrejas que possuem trabalho com casais geralmente enfrentam problemas com aqueles que adotam estas posturas. Líderes trabalham no sentido de buscar os “murphyanos”, os “panglossianos”, aqueles que freqüentam a igreja e não sabem que existe um trabalho com casais, e os novos casais que se achegam à comunidade. Não só o casal se beneficia, mas também seus filhos que um dia formarão outras famílias!
Fico imaginando as dificuldades em tratar questões de relacionamentos que os casais enfrentam. Sabemos que está ficando cada vez mais complicado viver sem “invasão de privacidade” face a todos os mecanismos de proteção de informações sejam elas: financeiras, cadastrais, previdenciárias, “internáuticas”, etc. Temos que utilizar senhas/códigos de segurança, cartões magnéticos, etc, para termos acesso a informações que na maioria das vezes são nossas. Até mesmo os aposentados estão utilizando cartões magnéticos. Tudo isto visando dar segurança à privacidade das informações de cada pessoa.
Grande parte das empresas/instituições fiscaliza nossos passos através de sistemas de circuito interno de TV. Aeroportos, bancos, etc checam nossos pertences através de sistemas de segurança. Na Internet (rede mundial de computadores), os chamados “cookies” podem verificar os passos de cada usuário pela rede. Este fenômeno tem se tornado tão intrigante que a revista de informática Info Exame (edição Junho) dedicou a sua matéria de capa a este assunto. A revista coloca que ninguém está incógnito. O mais interessante é que estamos tão envolvidos com esta “aldeia global” que não percebemos esta avalanche de senhas/códigos, cartões, circuitos de TV, etc.
Algo parecido acontece com o ser humano quando resolve se munir de mecanismos para que o outro não tenha acesso a ele. Isto tem acontecido com casais que se fecham dentro de seus “sistemas de segurança”. Com relação à privacidade comportamental e espiritual, a coisa não é muito diferente! As pessoas com mais freqüência se fecham em compartilhar suas emoções, seus anseios. Algumas têm dificuldades de colocar-se diante de Deus de maneira “escancarada”. Uns por temerem o que Deus irá fazer com suas vidas, outros por serem “imediatistas” e não terem tempo a perder com Deus. Existem áreas em cada um de nós que necessitam ser trabalhadas e ao criarmos nossos mecanismos de segurança impedimos o agir de Deus em nossas vidas. Cada pessoa se encarrega de criar sua própria senha/código de segurança.
Estimular “murphyanos” e “panglossianos” nem sempre é tarefa fácil. Portanto, fica para cada um de nós a incumbência de analisar nossas posturas com relação ao casamento. Se de fato temos nos dedicado a investir na relação ou não. Comportamentos saudáveis necessitam de cuidados constantes! É importante lembrar que, os extremos em qualquer das dimensões do existir, são sempre perigosos!
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Por: Pr. Edvaldo Shamá