A chegada de um filho no lar “desarruma” para melhor toda a nossa vida e estrutura familiar, pois somos desafiados a participar do processo de encaminhar aquele pequeno ser à idade adulta. O interessante é que pensamos que, como adultos, estamos no controle. Engano nosso! Este pequeno “intruso” manda e desmanda em nosso tempo, casa, carreira profissional, rotina, enfim, em nossas vidas. Quando contemplamos em nossos braços aquele frágil, delicado e indefeso bebê, percebemos claramente que ele é um presente de Deus. O Criador coloca diante de nós a verdadeira noção de milagre, vida e sentimento de admiração. Costumo comparar a educação de uma criança no lar como uma lousa em branco na qual podemos escrever, desenhar e fazer dela o que quisermos. Tudo que registrarmos ali ficará para sempre.
O Salmo 127, no versículo 3 diz: “Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá”. Quando ouvimos a palavra herança, pensamos logo em algo palpável, material, uma quantia grande de dinheiro, uma casa, fazenda, terreno, sítio ou outra coisa material bem significativa. A ideia que o salmista nos apresenta, é que ter filhos e poder criá-los é um bem enorme, uma grande recompensa e privilégio que o Pai nos dá.
Nos tempos bíblicos, as crianças eram sempre educadas no contexto da família, em geral, numerosa. Elas raramente ficavam fora do alcance dos braços amorosos dos pais e da disciplina firme que os preparava para vida. A educação de uma criança fora do círculo familiar era inadimissível, pois a palavra do Senhor os orientava com sabedoria a maneira exata de protegerem os seus filhos. O lar era uma oportunidade de realizar a tarefa sagrada de “construir” filhos e filhas. Esse conceito mostra com clareza o que o Criador tinha em mente, pois os pais deveriam empenhar-se em formar filhos, exibindo diante deles os fundamentos da fé e honrando a Deus. Assim, bem construídos no Senhor, esses filhos também se tornaríam construtores de filhos e filhas, espalhando uma semente boa às próximas gerações.
Infelizmente, não existe “receita pronta” para educar, mas seria bom apreciarmos algumas considerações que nos ajudarão a administrar e cuidar desta herança tão preciosa. Baseados em outro texto da Bíblia, que encontra-se no livro de Provérbios, capítulo 22, versículo 6, lemos: “Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles”. Nesse texto, a palavra “instruir” nos dá a ideia de educação contínua em relação àqueles a quem temos sob nossa responsabilidade. Ensinar ou educar filhos torna-se uma via de mão dupla, onde ambos, pais e filhos, crescem juntos.
Em primeiro lugar precisamos instruir a criança na formação do seu CARÁTER. O caráter da criança se define até os 4 anos de idade (após este período o caráter só pode ser moldado), por isso, precisamos ser exemplos em tudo; exemplos negativos, como: discutir em casa, ser desonestos, maldosos, fraudulentos, mentirosos, etc., comprometem a formação de um caráter puro, sincero, bondoso e calmo. Lembrem-se: tudo que fazermos estará sendo absorvido pela criança, desta maneira devemos moldar nossa conduta de tal forma que sirvamos de espelho. A criança vai querer ser como seus pais ou responsáveis são.
Em segundo lugar, instrua a criança no caminho da INTEGRIDADE. Devemos ensinar nossos filhos a serem íntegros e honestos. Nossas ações falam mais alto que nossas palavras. Tenha cuidado com os perigos da mentira, pois você não poderá exigir que seu filho fale sempre a verdade quando você está sempre mentindo. A honestidade é um dos mais importantes traços da personalidade de uma criança, então trabalhe isto nela. Muitos pais mentem aos filhos; fazem promessas e não as cumprem, pensam que eles não percebem que estão sendo observados o tempo todo. Peça a Deus sabedoria para responder às questões que eles lhes perguntar e responda sempre com honestidade. Nos primeiros anos, a criança pergunta demais: “o que é isso?”, “para que serve?”, “por que o céu é azul?” e mais tarde as perguntas ficam difíceis: “onde eu estava no dia do seu casamento?”, “de onde eu vim?”, “onde está Deus?”, etc. Tenha certeza de uma coisa: quando eles perguntam já têm uma ideia vaga a respeito do assunto, por isso, provavelmente já estão prontos para ouvirem uma resposta. Outra coisa muito importante é que nada deixa uma criança mais feliz do que receber um elogio. Ela se sente amada, respeitada e aprende a valorizar tudo em sua volta, por isso, elogie seu filho com sinceridade.
Em terceiro lugar, instrua a criança no caminho da RESPONSABILIDADE. Precisamos aprender a dar credibilidade a nossos filhos e confiar a eles determinadas tarefas. Comece com pequenos “favores”, como por exemplo organizar os brinquedos ou não deixar as roupas expalhadas no quarto. Meninas e meninos podem e devem auxiliar os pais nos afazeres domésticos, como ajudar ao fazer um bolo, tirar o pó do móvel, cuidar do animal de estimação, lavar a louça, etc. Aos poucos, dê a eles tarefas mais complexas como comprar algo na rua e até mesmo pedir ao seu adolescente que pague uma conta no banco, isso o ajudará a crescer e a desenvolver responsabilidade. Com certeza, ele também se sentirá mais útil no contexto familiar.
Em quarto lugar, instrua a criança no caminho da DISCIPLINA. A melhor disciplina é o amor, mas existem pais que “por amor” deixam seus filhos fazerem o que desejam. “Pintam o sete” na casa dos parentes, fazem vexame no shopping, aprontam todas na escola, fora da hora apropriada. Vou lhes dizer: Isso não é amar seu filho! Amar é corrigir quando preciso: “A insensatez está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a livrará dela.” (Provérbios 22.15). A sociedade moderna defende a “Lei da Palmada”, mas a Bíblia diz que a disciplina depende do pai, da mãe e dos responsáveis. Quem afasta a “vara” da disciplina criará filhos insensatos. Uma outra questão que mais forma crianças indisciplinadas é a contradição dos pais. O “jogo de braço” faz com que os filhos escolham a alternativa que lhes é mais conveniente. O pais não devem ser contraditórios na disciplina e discordem na frente do filho, antes, procurem uma hora e um local adequado para discutirem sobre o futuro da criança.
E o último e não menos importante, instrua a criança no caminho da ESPIRITUALIDADE. A Bíblia tem um papel fundamental na educação religiosa da criança. Ela é a Palavra de Deus e não deve ser tratada como um livro enigmático, difícil de ser compreendido. Leia a Bíblia com seus filhos, realize o culto doméstico e mostre que ao contrário do que muitos pensam este livro é precioso e contém respostas para todas as perguntas. Os filhos precisam ouvir desde cedo as verdades bíblicas. Compartilhe com eles as histórias de grandes homens e mulheres de Deus, como: Moisés, Sansão, Davi, Daniel, Maria e principalmente Jesus, o próprio Deus encarnado. Estes e outros personagens bíblicos contribuirão para uma excelente formação espiritual da criança. Deus deve ser o centro no lar. Pais que amam e temem a Deus, com certeza saberão ensinar a criança no caminho correto e bom.
Sabemos que a tarefa de ensinar nossos filhos não é fácil, mas devemos buscar a Deus para que nos oriente, pois ele promete que dará sabedoria a quem lhe pedir.
Não deixemos a responsabilidade de educar nossos filhos somente para a escola e a igreja. Nosso papel principal é prepará-los para serem adultos com caráter, íntegros, responsáveis, disciplinados e espirituais.
********
Por: Maura Rute Carvalho Antunes
Graduanda em Serviço Social e Educadora Religiosa – maurarute@bol.com.br