É possível ser feliz num casamento infeliz?

Depois de dois casamentos fracassados, Janice resolveu tentar mais uma vez encontrar o relacionamento com que sonhava. Contudo, um ano depois, o casamento com Hank já estava desmoronando. Derrotada e confusa, Janice implorou que Deus lhe desse algumas respostas.

— Naquele momento – diz ela – percebi que não existe lua-de-mel perpétua em casamento nenhum. Às vezes se trata apenas de trabalho árduo. Foi naquele exato momento que Deus me aconselhou a não depender do marido para ser feliz e me disse que eu só encontraria a verdadeira felicidade em Deus.

Muitos de nós, mesmo sendo cristãos, fomos educados com expectativas irreais acerca do casamento. Hollywood e o Harlequim nos ensinaram que devemos procurar o par perfeito – nossa alma gêmea – para sermos felizes. Quando surgem dificuldades no matrimônio, podemos nos perguntar, assim como Janice, se encontramos a pessoa certa, ou até pensar que cometemos um erro terrível. Após 26 anos de casamento e mais de duas décadas de aconselhamento, aprendi que Deus criou o casamento para nos amadurecer e para desfrutarmos, e não para nos gratificar ou nos fazer felizes.

O casamento é uma grande idéia de Deus, mas em todo casamento há temporadas difíceis e épocas de aridez, quando um ou ambos os cônjuges se sentem insatisfeitos com a vida em comum. Tentamos melhorar a relação, porém às vezes nossos esforços não produzem a mudança que queremos. Nesses momentos, não devemos nos perguntar “devo me separar do meu par e procurar outra pessoa que me faça realmente feliz?”, mas, pelo contrário, “É possível aprender a procurar satisfação e alegria em meio a um casamento infeliz? E, se a resposta for afirmativa, como?”

Mude o Foco

Todos os meus conhecidos querem o bem-estar interior, mas poucos conhecem o segredo da felicidade duradoura, ou mesmo sabem o que é felicidade. A felicidade é uma sensação de êxtase emocional? Prazer intenso com as circunstâncias da vida? Um estado interior de bem-estar e satisfação? A felicidade pode conter tudo isso.

Há alguns anos o meu marido me surpreendeu com um belo colar de pérolas que eu admirava já fazia algum tempo. Senti-me felicíssima – durante uns três dias – até começar a cobiçar um par de brincos para combinar com ele. Todos procuramos algo que nos gratifique e nos faça felizes, quer sejam pessoas, objetos, cargos ou status. Quando conseguimos o que queremos, sentimos determinada emoção a que chamamos de felicidade. Essa sensação, contudo, é sempre curta e, assim como Salomão com suas 700 esposas, e eu com meu colar de pérolas, começamos a desejar outra coisa que nos traga mais satisfação.

Durante viagem a Walt Disney World, fiquei impressionada com o número de filhos irritantes e pais frustrados. Meus filhos, assim como muitas outras crianças, se contaminaram com a empolgação e queriam tudo o que viam. Ficavam animados sempre que conseguiam o que queriam, mas a felicidade não durava. Quando negávamos seu próximo pedido, a alegria de poucos minutos antes se deteriorava rapidamente e eles se tornavam infelizes.

Pouco tempo depois desse passeio pela Disney, fui ao exterior fazer umas palestras e dar cursos nas Filipinas. Observei crianças descalças brincando alegres com pneus velhos, morando em casas de papelão. Essas crianças não precisavam de muito para ser felizes. Embora talvez só naquele momento, desfrutavam do que tinham.

Muitos de nós nos sentimos insatisfeitos na vida porque não nos contentamos com o que Deus nos deu. Queremos mais. Como isso se aplica ao seu casamento?

Jesus nos diz “onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt. 6:21). Se o nosso tesouro, nosso mais profundo desejo, é ter um excelente casamento, ou uma gorda conta corrente, ou certas outras coisas que julgamos essenciais para nosso bem-estar, então nos sentiremos infelizes quando não tivermos o que queremos. Pois tudo o que conquista o nosso coração também nos conquista.

Ninguém se preocupa mais com a nossa felicidade do que Jesus. Ele simplesmente nos ensina um modo de obtê-la que é diferente do secular. Ele nos diz que jamais encontraremos a felicidade por meio da procura de felicidade, ou prazer, ou pessoas, porém procurando por Ele. Diz Jesus: “Bem aventurados (ou felizes) os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5:6). Muitos de nós temos fome de felicidade (ou de um bom casamento, ou de uma casa grande), em vez de ter fome e sede de Deus. Esquecemos que só Jesus pode satisfazer profundamente a nossa alma. Todos desejam amor inesgotável (Pv. 19:22); acontece que jamais receberemos tal tipo de amor continuamente dos nossos cônjuges.

Criados à Sua imagem, Deus nos destinou a sentir felicidade quando algo nos traz grande deleite. Por exemplo, Deus se deleita quando encontramos grande prazer nEle. Mas é bem comum não ser Deus que nos traz nossas maiores alegrias, porém o que ele nos dá. Desejamos as dádivas dEle, mas não percebemos que a nossa maior dádiva é o próprio Deus. Oswald Chambers explica: “O grande inimigo da vida de fé em Deus não é o pecado, mas o bom que não é suficientemente bom. O bom é sempre inimigo do melhor”. Queremos e procuramos ter coisas boas, mas quase sempre desprezamos a melhor. O salmista no recorda onde se encontra a felicidade duradoura. Escreve ele: “Tu me farás conhecer a vereda da vida; na tua presença há plenitude de alegria; à tua mão direita há delícias perpetuamente” (Sl 16:11). O amor de Deus é o único amor eterno (Jr. 31:3).

Proteja seu coração

Para encontrar alegria em um casamento infeliz ou difícil, devemos aprender a proteger o coração (Pv. 4:23). Muita gente que tem problemas no casamento protege muito bem o coração, mas os muros que constroem são para se proteger do cônjuge, e não do verdadeiro inimigo. Em meio a um casamento infeliz pode parecer que o inimigo é o cônjuge, mas Deus nos diz que o verdadeiro inimigo é Satanás, e a Bíblia nos adverte que ele está à solta para nos devorar (I Pd 5:8).

A meta de Satanás sempre foi nos levar a questionar a bondade divina e a duvidar da veracidade da palavra de Deus. Jesus nos diz que Satanás é mentiroso (Jo 8:44) e que sua estratégia é pegar o que parece verdadeiro e distorcer de maneira bem sutil. No casamento difícil, Satanás pode sussurrar mentiras como “Por que é você que tem de se empenhar no casamento? Não é justo. Procure outra pessoa que a faça feliz”. Ou “Não perdoe, ela não merece. Você tem o direito de pensar assim depois do que ela lhe fez”. Ou “Ele jamais será a pessoa que você quer. Você cometeu um erro terrível ao se casar com ele e Deus não quer que você passe o resto da vida infeliz no casamento com essa pessoa”.

Satanás quer nos fazer crer que Deus não é bom e que não sabe o que é melhor para nós. Não esqueça que ele não está interessado no seu bem estar nem na sua felicidade. Ele quer destruir a nós e a nossa família.

Proteger o coração não requer apenas que eu esteja atento para as trapaças de Satanás, mas que me aproxime de Deus para ouvir a verdade. Não deixe Satanás induzi-lo a crer na possibilidade de alguma felicidade duradoura longe de Deus.

Viver para o Eterno
Em meio às situações difíceis, nossa reação natural é procurar a saída mais próxima. Isso também acontece nos casamentos difíceis. Quer sejam saídas de grande porte como o divórcio ou adultério, ou saídas menores como fechar-se e sonegar as emoções, queremos sair. Não obstante, a Bíblia nos diz, em Tiago 1, que é em meio às dificuldades que temos a oportunidade de praticar uma das mais importantes disciplinas de que precisamos para viver bem a vida – a perseverança. Sem essa qualidade, a nossa tendência é viver para o que nos traga alívio ou prazer a curto prazo.

Adoro comer, principalmente doces. Adoro a textura quente e viscosa do chocolate na boca, e seria feliz se comesse chocolate no café da manhã, no almoço e no jantar. Não obstante, quando exagero, sou perseguida por outras emoções como culpa e arrependimento. Fico furiosa por ter sabotado o objetivo maior que tenho de conquistar o autocontrole e manter bons hábitos de alimentação. Também descobri que quando consigo dizer não à tentação do chocolate, de fato me sinto mais contente comigo mesma.

Só entendemos o que nos faz realmente felizes quando temos uma visão de longo prazo da vida. Viver o momento pode nos levar a pensar que os prazeres seculares trazem felicidade. O autor dos Provérbios nos adverte: “e gemas no teu fim, quando se consumirem a tua carne e o teu corpo, e digas: Como detestei a disciplina! e desprezou o meu coração a repreensão!” (Pv. 5:3,11,12). Muitos só descobriram tarde demais que aquilo que lhes trouxe alegria no momento provocou sofrimento e dor a longo prazo.

O apóstolo Paulo nos lembra que só quando passou a concentrar-se atentamente nos olhos do espírito conseguiu manter-se afastado do total desespero em tempos de grandes dificuldades (2Co. 4). Examinar o panorama geral nos oferece perspectiva no momento e nos ajuda a perceber que Deus é bom e está fazendo algo de bom dentro de nós, mesmo em um casamento difícil (Rm. 8:28, 29).

Saber que é possível encontrar alegria em meio a um casamento infeliz lhe proporcionará resistência suficiente para perseverar até que as circunstâncias mudem. Você pode ter uma sensação de bem-estar ao aprender o segredo de contentar-se em qualquer situação que Deus permita em sua vida. Quando escolhemos o caminho mais ético em meio aos problemas conjugais, ele nos leva ao crescimento e à maturidade. Além disso, nossos filhos verão o nosso exemplo do que significa caminhar com Deus e confiar nele em tudo. E ao desfrutar dessas bênçãos, talvez você descubra que seu casamento melhorou. Contudo, a maior felicidade de toda a vida virá quando ouvirmos as palavras “Muito bem, bom e fiel servo”. E, no fim, é só isso que importa.

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Por: Leslie Vernick

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