Durante anos na história, o homem manteve-se no topo da hierarquia, quer seja na família ou fora dela, ele sempre teve a última palavra e o controle das situações. Como diz David Clarke: “Os homens aprendem desde o berço a desenvolver em seus relacionamentos: respeito, status, poder e independência”. Todas essas qualidades produzem controle.
Desde muito cedo, meninos brincam disputando entre si para ver quem é o mais forte, quem aguenta brincadeiras “pesadas” e não chora! Crescem aprendendo que devem dar conta, sem nem mesmo sentir dor! Dar conta de suas competições, de suas conquistas amorosas, de sustentar filhos e de ser forte o suficiente para guardar em si mesmo seus anseios, necessidades e impotências. Mas, será que ser forte não seria poder falar de suas fraquezas e dar conta de encará-las?
Falar de si mesmo implica expor-se, e expor-se é um grande desafio, é quebrar as fantasias que estão no imaginário de outros, é às vezes deixar um “papel” que lhe foi conferido – o de SUPER-HERÓI, por exemplo. Alguns homens têm se sustentado através de títulos, nomes, cargos e situações. E até mesmo escondem-se através de rótulos que lhes conferem a sensação de ser alguém importante e capaz. Infelizmente, a sociedade, a família e até mesmo o sistema religioso não lhes autorizam a mostrar-se frágil, indeciso e impotente – características de ser HUMANO.
Em contrapartida, vemos a mulher cada vez mais ocupando um espaço há muito ocupado por homens, quer seja no mercado de trabalho e/ou dentro da própria casa, o que contribui para uma desestabilização do “terreno conhecido” para o homem que sempre foi o poder, o controle, deste lugar cativo – acontecendo então relevantes mudanças de papéis. A mulher se tornando independente e que, por opção e/ou necessidade, acaba criando filhos sozinha, destituindo o poder masculino e transformando a hierarquia familiar.
As mudanças sociais em torno dos papéis femininos têm sido grande causadora da instabilidade também dos papéis masculinos. Enquanto que antigamente em nada se cobrava do homem uma participação na administração do lar ou na criação dos filhos, nos dias atuais essa cobrança é muito maior. Ao descobrir-se capaz de trabalhar tanto quanto o homem e de poder exercer as mesmas atividades, a mulher, no decorrer dos anos, tem desestruturado a confiança masculina. O sexo frágil mostra-se nem tão frágil assim e o sexo forte, consequentemente, acaba por mostrar-se nem tão forte assim. Com tudo isso acontecendo, eles acabam por perguntar-se: “Homem pode trocar fraldas, fazer o jantar, lavar louças, conversar sobre negócios de trabalho com uma mulher? Será que isso não abala minha masculinidade?” E este é um lugar completamente novo para os super-homens.
Tudo isso tem gerado conflitos; homens que se sentem ameaçados e assumem mais situações que lhes conferem poder, prestígio etc., numa tentativa de resgate de um lugar por eles já conhecido, o lugar de QUEM DÁ CONTA. O lugar de quem detinha o poder e o topo da hierarquia. Sustentar esta situação tem levado muitos a desenvolverem sintomas diversos. E mesmo rodeados de muitos, se sentem sós e, não tendo com quem compartilhar, chega o medo da crítica, da exclusão, da perda…
Então, começam a apresentar doenças psicossomáticas: fortes enxaquecas, gastrites, impotência sexual, doenças cardíacas, entre tantas outras. É aí que chegamos ao ponto. Eles estão encontrando, no espaço terapêutico, um lugar onde tomam consciência de seus papéis, de suas responsabilidades, do que as mudanças na história do homem e da mulher têm a ver com sua própria história. Porém, também se dão conta de seus limites, e do quanto NÃO PODEM, e do quanto têm se violentado para sustentar exigências há muito feitas; exigências até mesmo irreais, porque ninguém é super o tempo todo. Eles encontram no espaço terapêutico, alguém que os ouve, compreende e ajuda sem cobranças ou com expectativas irreais a seu respeito. Eles encontram no espaço terapêutico um lugar onde se veem humanos, um lugar onde podem até chorar.
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Por: Neiva Proença e Elizabete Bifano