Indo para o céu de caminhão e de bicicleta

“Na boléia de um Mercedes Benz 1113 o meu caráter e os meus valores foram forjados por meu pai.

Antes das 6 horas da manhã o motor já estava ligado, aquecendo, enquanto nós fazíamos o culto doméstico dentro do caminhão.

Com a Bíblia aberta e apoiada no volante, papai lia, comentava, explicava e aplicava versículo por versículo.

Para ser sincero, não me lembro dos textos e nem das explicações, mas aquelas cenas me transmitiram a paixão do meu pai pela Bíblia e o zelo como ele buscava entendê-la e obedecê-la.

Hoje à tarde papai foi encontrar-se com o Senhor Jesus. A saudade fica, mas também o legado de um homem íntegro, trabalhador e amoroso”, escreveu no Facebook, o Pr. Samuel Moutta, a respeito de seu papai, Daniel Moutta, recém falecido.

Outro depoimento.

“Era uma velha bicicleta preta, com selim alto, provida de “garupeira”. Fora de moda, cafona até, após o advento das Calóis e Monaretas. Esteve em minha casa desde que eu era bem pequeno, e me lembro dela por lá, até minha adolescência, já então sem muita utilidade, depois que papai conseguiu comprar um fusquinha. Mas me recordo daquela silhueta magra, toda preta, com um escudo na frente revelando sua marca e procedência– “Philips- Made in England”.

E me recordo de uma cena de minha feliz infância, da qual participei. Porém, hoje, vejo como se fora espectador.

Papai conduzia a bicicleta, pedalando forte. Minha mãe, na garupa, levava minha irmãzinha ao colo e eu, talvez com cinco anos, ia no quadro da bicicleta. Era noite.

Atravessávamos a ponte de paus que ligava o primeiro distrito de Campos, com suas ruas calçadas, iluminadas e urbanizadas a Guarus, com suas ruas empoeiradas, esburacadas e escuras, aonde íamos para o culto de oração de quinta-feira. Olhando para baixo, eu podia ver os paus da ponte e, entre eles, as águas do rio Paraíba, parcamente iluminadas pelas luzes amareladas da ponte e pelo farol medíocre da bicicleta que se fortalecia dependendo da força repassada ao dínamo pelas pedaladas de papai.

Meu pai era pastor em Guarus, à época, o lado pobre de Campos. Mais feliz que seu pai Antônio, que ia às várias igrejas a que se dedicara, em lombo de burro ou cavalo, meu pai tinha a sorte de ter aquela velha bicicleta para nos levar à igreja. Lá pregou o Evangelho de Cristo por quase trinta anos. Ali ensinou e batizou muitos irmãos, lutou contra a ignorância espiritual de toda uma comunidade, falando do amor de Deus e da redenção eterna por Ele provida. Montado na bicicleta, qual Dom Quixote em Rocinante, levava a loucura do Evangelho, brandindo sua Bíblia, convidando a todos, “nos campos e valados”, a se renderem aos pés de seu Senhor.

Não sei onde andará aquela velha bicicleta. Se estará em algum canto encostada, ou se mesmo seus pedaços ainda existem. Lembro-me dela com saudade. Ao levar-me pra Guarus, ela começou a me levar para o céu”, escreveu o Dr. Ebenézer Junior, médico em Nova Friburgo, a respeito do cuidado do querido Pr. Ebenézer Soares Ferreira em levar seus filhos para a igreja.

Preferi citar na íntegra esses belos depoimentos sobre a influência de pais na vida de dois homens, um pastor e outro médico. Ambos servos do Deus Altíssimo.

Não, antes que alguém pensem que estou a insinuar que podemos entrar no céu de Mercedes Bens ou de bicicleta, digo que só podemos adentrar aos céus por meio de Jesus, mas que o caminhão Mercedes Bens e aquela velha bicicleta levaram até o portão dos céus esses dois homens, ah, isso levaram.

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Por: Pr. Gilson Bifano
Escritor, conferencista na área de casamento e vida familiar. Diretor do Ministério OIKOS. oikos@ministeriooikos.org.br

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