Meu companheiro NÃO é um inimigo!

No filme “Dormido com o Inimigo” (1990), dirigido por Joseph Ruben com Julia Roberts, Patrick Bergin e Kevin Anderson, o personagem de Julia verdadeiramente dormia com um inimigo declarado. Em um casamento que já durava quatro anos Sara (Julia Roberts) e Martin (Patrick Bergin) personalizam o casal feliz e próspero, mas na realidade o marido espancava regularmente sua mulher.

Porém, não é difícil encontrar casais que fazem do título do filme uma marca em suas vidas, não por conta de violências, traições ou coisas piores, mas pelo simples fato de ter, o casal, uma opinião contraria sobre algum assunto. Daí vem o pensamento de que o cônjuge é um inimigo em potencial e, como resultado, temos visto casais a experimentarem inicialmente um distanciamento e, posteriormente, uma separação de fato. Mas será que uma simples discordância faz com que você viva e inóspita experiência de estar dormindo com um(a) inimigo(a)?

Não é inimizade. É diferença de gênero!

Homens e mulheres comportam-se de maneira diferente nas formas mais simples de viver o dia a dia, trazendo surpresas que servem como start para sérios desajustes e confusões.

Um bom exemplo está na arrumação das malas para uma viagem. Observem como um homem prepara sua bagagem para uma viajem, em seguida tente imaginar como esta mesma mala seria preenchida se fosse preparada por sua mulher para o mesmo destino. No final veremos que a mulher arruma muito mais bagagens e leva além do que precisa ou vai usar. Outro exemplo se dá quando os dois entram em um salão de festas. A mulher observa o todo, o homem olha apenas parte deste todo. A objetividade masculina já é pauta em bate papos corriqueiros.

Numa peça teatral ouvi o seguinte: que o cérebro da mulher é composto de muitos fios interligados. O fio das compras está ligado ao fio do prazer, que está ligado ao fio do falar com a mãe, que está ligado ao fio da sogra, que se ligado ao fio do marido, que se liga ao fio do shopping, e por aí vai. Enquanto que o cérebro do homem é composto de caixas. Uma para cada assunto. Incluindo a caixa do “nada”, a mais difícil de ser entendida pelas mulheres. Estas diferenças emocionais e comportamentais podem levar os cônjuges a uma confusão achando que estas formas diferentes de ver a vida traduzem inimizade.

A Literatura tem mostrado pesquisas sobre as muitas diferenças de gênero e como o conhecê-las diminui a tensão entre as partes de uma relação.

Não é inimizade. É diferença de origem!

Cada cônjuge vem de uma família com costumes, hábitos, crenças e formas de funcionar diferentes. Ao se relacionar com outra pessoa parece que passa a existir uma “lente de aumento” sobre estas diferenças. Um exemplo disto é quando um dos cônjuges que veio de uma família onde todos desfrutavam do mesmo espaço geográfico, mesmo credo religioso e adotavam estilos de vida parecidos casa-se com uma pessoa vinda de uma família onde existe muita diferenciação, uma autorização para ser diferente, onde cada um constrói de certa forma seu próprio caminho. A priori um interessa-se pela historia diferente do outro. Há um encantamento inicial, mas o que hoje encanta pode ser o mesmo que afasta amanhã. Muitos, com o passar do tempo, deixam que estas diferenças de origem afetem a relação conjugal fazendo parecer que fazem parte de “torcidas” inimigas, cada um querendo que vença seu jeito aprendido de ser. Portanto é saudável conhecer a própria historia e a  historia do cônjuge para que haja compreensão, parceria e funcionalidade na construção da nova história a que se propõe o casal. Você não tem um inimigo só porque ele tem uma história diferente da sua.

Como e quando o cônjuge pode se transformar em um inimigo

Primeiramente podemos pensar que muitas acusações podem nascer no momento em que a conjugalidade deixa de existir. Os sonhos já não são mais compartilhados, os objetivos já não são mais comuns, não há mais cumplicidade, não há mais confiança, não há mais entrega. É quando o eu-conjugal se desfaz. Quando não há mais foco nas questões conjugais e sim nos interesses pessoais.

Em segundo lugar quando a individualidade é anulada numa espécie de fusão da relação. Acontece a interrupção de sonhos, projetos e perspectivas individuais.

Certa vez uma mulher comentou ao se separar que tinha vivido todos aqueles anos para a família e que tinha se esquecido dela mesma e de seus sonhos, acusando desta forma o agora “inimigo” ex-marido de ter anulado seus ideias.

O projeto de casal precisa ser equilibrado com os projetos individuais e conjugais para que não se levante inimigos reais ou imaginários.

Em terceiro lugar, como no filme se pode notar, quando os limites de uma convivência equilibrada e humana são ultrapassados convertendo a relação numa verdadeira ameaça emocional e física. Infelizmente essas coisas acontecem e transformam casamentos em autênticos casos de polícia. Já vi pessoas que foram apaixonadas no passado se tornarem inimigas mortais a ponto de não só desejarem, mas de maquinarem o mal do outro fazendo disso uma obsessão. Neste caso todos sofrem. Ninguém é vitorioso.

PRECISAMOS LUTAR! NINGUEM ESTÁ IMUNE!

A grande arma contra este tipo de experiência é encontrada numa relação cada vez mais intima com Deus e a sua Palavra. Todo relacionamento interpessoal, especialmente o conjugal, vai trazer automaticamente grandes desafios para ambas as partes. Duas cabeças juntas convivendo, decidindo, concordando e discordando vão precisar de algo mais para que consigam viver em harmonia. E esse algo mais está no amor que aprendemos a sentir e praticar, amor este que encontramos a partir do nosso encontro diário com o Senhor Jesus que, quando fala de inimigo, nos orienta ao ato mais revolucionário do amor que é amar os inimigos e orar por eles (Mateus 5:44). Isso não é fácil! Dependendo do dia e da circunstância, qualquer monossílabo que contrarie o nosso pensamento, pode soar como oposição e inimizade. Se não houver maturidade, se dá o efeito “bola de neve” e o que era apenas um monossílabo de contrariedade acaba se tronando uma avalanche de insultos, agressões e outras coisas mais. E mais, acontece nas melhores famílias! Ninguém está imune. Se não vigiarmos direitinho, quando menos se espera, estamos numa discussão que depois gera um “climão” e só mesmo a Palavra de Deus em ação para desfazer este imbróglio (“…É normal ficar com raiva. É claro que todos sentem raiva. Mas não alimentem vingança no coração. Não deixem que a raiva domine muito tempo. Resolvam o problema antes de dormir.Não deem mole para o Diabo! Não deixem que ele prejudique a vida de vocês.” Efésios 4:26,27 na Bíblia A Mensagem de Eugene Peterson).

Seu cônjuge não é seu inimigo só porque existem algumas diferenças. Pode dormir tranquilo(a) e tenha bons momentos (antes ou depois do sono). Vocês precisam e vocês merecem.

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Por: Psic. Neiva Proença

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