O medo infantil

2255781557_d7148597a7_bO Filho de Deus fez questão de demonstrar amor e dar importância às crianças. Certa vez, declarou que ninguém poderia entrar no Reino de seu Pai se não se fizesse como uma criança. Em outro momento de sua passagem física por este mundo, repreendeu seriamente aqueles que queriam afastar os pequenos de si.

Todos os que somos pais, avós, tios e “tios” de coração sabemos o quão maravilhosas são as crianças. E cada um de nós que ainda se lembra ou carrega algo da própria infância sabe que um dos sentimentos mais comuns de uma criança é o medo. Medo de escuro, de barulho, de fantasmas, de ser deixado sozinho e até mesmo de um simples bichinho – qualquer criança se amedronta diante de coisas e situações mais simples do dia a dia.

Sentir medo é natural e normal para todos os seres humanos. É um dos sentimentos reconhecidos como inatos, o que significa que nascemos prontos para reagir sentindo medo diante de qualquer situação de ameaça ou perigo, real ou imaginário, que provoque insegurança. Bebês podem sentir medo de outras pessoas diferentes daquelas com as quais estão acostumadas.

À medida que vão crescendo, as crianças podem sentir medo de ruídos; o som de um liquidificador ou o estampido de fogos de artifício, por exemplo, pode apavorá-las. Depois dos terceiro ano, os pequenos podem apresentar medo de animais aos quais não estão acostumados, como vacas ou cavalos, e de figuras que lhes pareçam estranhas, como palhaços. Outros medos vão surgindo com o passar dos anos. Muitas crianças chegam a ter muito medo da morte, em geral por volta dos seis, sete anos.

Se o medo é normal nesta fase da vida, ajudando a construir traços psicológicos e estruturas mentais fundamentais à existência humana, a falta de compreensão deste processo por parte de pais, cuidadores e educadores pode acarretar sérios problemas. Quando a criança não recebe a devida proteção e segurança em relação aos seus medos, pode desenvolver outros comportamentos ou até sintomas de alguma enfermidade.

Pior ainda é quando o adulto critica ou mesmo ridiculariza a criança, chamando-a de medrosa ou covarde. Brincadeiras e piadas sobre o medo infantil podem aumentar ainda mais a insegurança da criança e bloquear a expressão de seus sentimentos. Ela recebe a falta de compreensão do adulto como se fosse algo de errado nela e se vê como inadequada. Outra “solução” encontrada por muitos pais – obrigar a crianças a enfrentar o lugar, situação ou coisa que lhe causa medo – pode desencadear até mesmo fobias.

A vida é cheia de situações de risco e perigo, e elas são ainda mais agudas para quem não pode, ainda, discernir sua verdadeira dimensão. Algumas crianças têm medo até da própria sombra, antes de perceber que aquela figura escura que a persegue não representa qualquer perigo. Cabe, portanto, aos responsáveis pela criança lidar de forma adequada com os medos sem fundamento das crianças e ensiná-las a ter cuidado com coisas e situações que realmente podem ser perigosas, como subir escadas, debruçar-se nas janelas e atravessar as ruas. O ato singelo de segurar a mão da criança já lhe confere grande sensação de segurança e confiança.

Lembrar que cada um de nós também sentiu medo das coisas mais simples durante a infância pode nos ajudar muito na compreensão do medo infantil apresentado pelo filho ou pela criança que está sob nossos cuidados. Nosso Pai também lida com nossas inseguranças e não nos recrimina quando nossa condição humana nos leva a sentir medo. Moisés, diante do chamado divino, ficou apavorado. Deus, porém, souber conduzir a situação de modo que o libertador dos hebreus pudesse contornar suas dificuldades e cumprir sua missão.

Os discípulos de Jesus chegaram a gritar de pavor quando o viram caminhando sobre as águas, tomando-o como um fantasma.  Aproximando-se deles, o Mestre se deu a conhecer e ainda tranquilizou o coração daqueles homens com a certeza de sua presença: “Sou eu; não temam”. Se nós, adultos, somos tratados por Deus, nosso Pai, com compreensão e cuidado em relação aos medos que sentimos, por que não faríamos o mesmo com as crianças, que tanto dependem de nós e do nosso cuidado amoroso?

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Por: Psic. Esther Carrenho

Fonte: Cristianismo Hoje

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