“Pai herói – Como as mães podem contribuir para os filhos terem uma imagem positiva do pai”.

Na antevéspera do meu aniversário, depois de ter saído eu e minha esposa para uma caminhada, chegamos em casa e encontramos aquele silêncio. Pra quem tem três filhos quietinhos e maravilhosos, como os nossos, a luz vermelha acendeu. Pensei logo: “Tem alguma coisa errada! Esse silêncio não é normal. O que será que eles estão aprontando dessa vez?”

Entrei no escritório e quando acendi a luz eles gritaram: surpresa!!! Com a cumplicidade da mãe eles colocaram dois lindos presentes sobre a mesa e colaram alguns banners na parede com as seguintes frases: “Parabéns papai. Continue bonito, inteligente, cabeludo (detalhe estou ficando careca), forte e atlético (tenho 1,78 e peso 66 quilos). Amamos você do jeito que você é, mas às vezes só Jesus pra dar-nos paciência!” Os nossos filhos são realmente criativos, muito criativos.

O filho menor, que tem dez anos, fez um desenho do homem de ferro – no final de semana nós fomos assistir esse filme com ele – e escreveu a seguinte frase: “Você é o nosso Iron Men!” Estufei o meu peito esquelético e disse pra mim mesmo: “Eu sou o Iron Men!” Depois tive um acesso de tosse!!!

Faço esse preâmbulo para dizer que vivemos uma época marcada pela desilusão, pela falta de sonhos, de ideais, pela ausência dos heróis. O que é um herói? O herói é aquele que nos atende, nos socorre e nos ajuda nos momentos de maiores dificuldades. É assim que os filhos vêem o pai, como aquele homem forte que atende, socorre e os ajuda nos momentos de dificuldade.

“Vou falar com o meu pai!” Frase comum de uma criança frente a percepção vinda de um outro ameaçador.  Mas cadê o pai da criança? Ele não está em casa e não é porque está trabalhando ou estudando. O pai sumiu! O pai sumiu porque o homem encontrou a pílula dourada, que na verdade é azul, como promessa de um prazer ilimitado. O pai sumiu porque a sociedade contemporânea, herdeira de uma subjetividade equivocada, por quê não dizer maligna, tem descaracterizado a figura de autoridade, que é uma das marcas características e constitutivas da figura paterna.

Mataram ou estão tentando matar o pai. A imagem do pai hoje tem sido ofuscada pelos episódios de brutalidade, como no caso da menina Isabella, que pelo o que tudo indica foi brutalmente assassinada pelo pai, e pelo pai que durante vinte e quatro anos abusou sexualmente da filha, mantendo-a trancada no porão da sua casa na Áustria.

Na psicanálise, mas propriamente no texto “Totem e Tabu”, Freud usou o mito do parricídio como forma de explicar o fenômeno do complexo de Édipo, que segundo ele é complexo nuclear das neuroses. O que Freud tenta explicar a partir desse mito, dessa historieta, desta lenda, é que o pai morto pelos componentes da horda surge como imagem mental de um pai que instala a proibição do incesto. É a imagem do pai como aquele que instaura a lei e que atua, portanto, na constituição do superego.

A saída que o filho encontra em toda essa trama mental e inconsciente é a identificação com o pai. Algo do tipo: se não pode com ele, alie-se a ele. É pela via da identificação com esse pai forte, proibidor, castrador, que o filho harmoniza e aplaca o seu desejo incestuoso. Identificação esta que será determinante na escolha da sua futura esposa. O que quero aqui ressaltar é a importância que o filho tem de ter um pai de carne e osso, mas que independente do acumulo de carne ou da exposição do osso, se apresente como um referencial para o filho. Como um herói. Até o momento em que o filho, no desenvolvimento de sua maturidade, abdique do herói para ficar com o pai. Até o momento em que ele, o filho, assuma no casamento o papel de pai, de herói, de referencial, para o seu filho. É assim que funciona!

Falar do pai como herói não implica e não significa concebê-lo como pessoa insensível. É pela via das distorções que os grandes equívocos se instalam. O pai se empresta e aceita o lugar de herói, o que não significa abdicar da sua posição de humano. O pai na qualidade de herói é aquele que protege, supre, delimita. O herói na qualidade de pai é aquele que brinca, rola na lama, beija, abraça e elogia. O pai e o herói são os dois lados de uma mesma moeda.

Até aqui não introduzimos a mãe, a mulher maravilha, nessa trama. Mas precisamos fazer isso. É ela, a mãe, quem apresenta o pai ao filho e o filho ao pai. O bebê tem uma relação umbilical com a mãe, mas não tem com o pai. Com a mãe a conexão é direta, mas com o pai é indireta. Até certo momento do seu desenvolvimento o bebê vê a mãe, na figura do seio, como uma continuidade de si mesmo. Ele e a mãe formam um todo inseparável. O amor é lindo!

Onde fica o pai nessa história? Ele está ali bem ao lado, ou deveria estar, cumprindo algumas obrigações, ajudando no resguardo da esposa, a mãe do seu filho; ao tempo que aguarda que ela o apresente: “filho! Este é o seu pai.” Momento glorioso em que o pai toma o filho nos braços; pelo menos até o momento em que ele comece a chorar clamando por algo que só a mãe pode dar – o seio materno.

O pai aparece a partir da apresentação da mãe. Mas para que o pai apareça é preciso que ele esteja presente, se não em corpo e alma, pelo menos no referencial da mãe que diz: “daqui a pouco papai vai chegar!” A tão propalada produção independente é uma tentativa insana de exclusão do pai. Deixando o pai de fora o que surge é um vácuo. Mas o que vem a ser o vácuo? Vácuos, espaços vazios tendem a ser preenchidos. É assim que a ausência do pai cria um vácuo que o filho, assim como a mãe, buscarão preencher.

Tenho visto muitas mães aflitas e atordoadas com a responsabilidade de atuarem como pai e mãe. A intenção pode até ser nobre, mas os resultados não são satisfatórios. As intenções podem ser boas, mas não são suficientes. É preciso aqui ampliar a visão do pai para além do biológico. O ideal é que o pai biológico seja também o pai psicológico, aquele que referencia, que comparece, que acaricia e traça os limites que precisam ser obedecidos. Mas em alguns casos o pai que aqui chamo de psicológico consegue suprir satisfatoriamente e com louvor a ausência do pai biológico. Cada caso é um caso.

Tomei conhecimento que na língua chinesa a união de duas palavras pode formar uma terceira palavra, com um sentido totalmente distinto das duas que a originaram. Assim é que quando o símbolo da palavra homem se une ao símbolo da palavra mulher, o resultado é uma terceira palavra cujo sentido é bom. Quando Deus criou o homem e a mulher o texto bíblico diz que Ele viu que era muito bom (Gn. 1: 26,31). Lamentavelmente o que temos observado é a tentativa da diferença constitutiva, física e emocional, de algo muito bom que Deus fez: o homem e a mulher.

Homem e mulher, pai e mãe, numa relação estável e envolvida pelo amor, o respeito e a compreensão, formam o ambiente propício para o crescimento e desenvolvimento psico-físico-social e espirtual do bebê até a sua fase adulta. É na família, nos moldes bíblicos, que este desenvolvimento se estabelece de forma plena e eficiente. Família nos moldes bíblicos não tem necessariamente a ver com a família que dominicalmente vai à igreja. Tem muitas famílias ditas cristãs que vivem de aparências.

Agora que já colocamos a mãe no centro da história familiar vamos apresentar algumas dicas sobre como ela pode contribuir para que o filho construa uma imagem positiva do pai. É preciso deixar claro que as ações falam mais alto do que as palavras. Deste modo de nada adianta a mãe se esforçar para que o filho construa uma imagem mais positiva do pai se o próprio pai não faz jus a esta imagem. Para algumas mulheres esta tarefa é extremamente difícil, pois tem maridos que, como diz um irmão da igreja, “só Jesus!”

A mãe precisa abrir espaço para a presença do pai.

As vezes de forma inconsciente a mãe se apega tanto com o filho que não permite que o pai participe de uma forma mais efetiva no cuidado e na atenção com o filho. Para alguns pais essa posição até que é cômoda. No entanto, a médio e longo prazo o prejuízo é certo, pois o filho tenderá a não reconhecer a autoridade do pai. É preciso que o filho cresça observando a cumplicidade dos pais e reconhecendo que um complementa o outro, e não que um anula o outro.

A mãe não deve fazer do pai um carrasco.

“Quando seu pai chegar vou falar tudo pra ele”. É assim que algumas mães, de forma equivocada, buscam inibir determinadas ações do filho. Só que com isso ela contribui para que o filho crie a seguinte imagem a respeito do pai: “meu pai é mal. Ele é um carrasco!” A política não deve ser a de guardar segredos ou esconder do pai as falhas do filho. É preciso que o filho veja que os pais compartilham da sua educação. Mas isso não significa transferir para o pai uma posição que não é dele, a de carrasco.

É importante que a mãe ensine o filho a respeitar o seu pai.

Nenhum dos pais deve tirar a autoridade do outro no momento em que este estiver corrigindo o filho, a não ser que haja um descontrole e que a integridade física do filho seja colocada em risco. Se o pai está exortando o filho a mãe deve permitir que ele faça isso. Depois quando os dois estiverem juntos os pais devem conversar sobre a postura tomada, compartilhar os equívocos e traçar uma estratégia em comum. É importante que o filho veja que a tarefa de educar pertence tanto ao pai quanto a mãe. É natural que os filhos tentem romper esta unidade para que possam ser favorecidos em determinadas circunstâncias.

É importante que a mãe não se sinta menosprezada quando vê o filho buscando a aproximação com o pai.

Por vezes ouço de uma mãe com filho recém-nascido a seguinte brincadeira, com um ar de queixa: “sou quem dou alimento, que acordo a noite quando ele está chorando, e quando ele começa a falar a primeira palavra que diz é – papa!” Na verdade se a criança pudesse realmente se expressar era resolveria essa questão dizendo: “eu não estou falando nem papai nem mamãe, estou simplesmente inventando o meu vocabulário.” O nascimento de um filho é por si só um processo de amadurecimento emocional. Quem tem um filho precisa saber que o tem para doar. O cuidado, o amor, o carinho, não podem ser oferecidos como forma de prender o filho no emaranhado do complexo de culpa: “ele não gosta da mamãe!”

Conclusão:

Na verdade confesso que não me sinto muito a vontade escrevendo um assunto tão complexo como este, ainda mais com esta armadilha de dizer como se faz. Tem coisas que só aprendemos fazendo. A vida é assim. Kundera no livro “A insustentável leveza do ser” diz que a vida é como uma peça de teatro. Mas com uma diferença: no teatro os atores ensaiam várias vezes antes de apresentar a peça. Na vida o ensaio já é a própria apresentação.

As considerações aqui apresentadas devem ser vistas como referências e não como verdades plenas e absolutas. Estas nós encontramos na Bíblia, e bem especificamente na vida do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. De todas as histórias que encontramos na Bíblia o que podemos observar é que se uma nos fala o que fazer, a outra nos mostra o que não podemos fazer. Ou seja, fala da história de homens e mulheres, pais, mães e filhos, que erraram e algumas coisas e acertaram em outras. Não temos na Bíblia um exemplo melhor do que Jesus, o filho de Deus.

Isso é por si só uma grande lição. Se o pai quer saber realmente como atuar como pai no sentido pleno da palavra ele precisa atentar para relação de Deus para com o seu filho, e de Deus para com a sua igreja, e isso está muito claro no capítulo cinco da carta do Ap. Paulo aos Efésios.

É claro que a mãe referencia o pai. Mas insisto em dizer que sobre ela não pode pesar a responsabilidade de suprir e nem mesmo de sustentar a figura do pai. Se ela apresenta o pai, este por sua vez precisa responder dizendo: estou aqui filhinho! A presença do pai é de vital importância. Presença física, emocional e espiritual. Não é suficiente estar em casa é preciso se fazer presente.
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Por: Pr. Ailton Gonçalves Desidério

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