Por que as pessoas se casam?

O casamento é um fato social de profunda significação na vida do ser humano, capaz de alterar o curso de sua existência e causar enormes e radicais transformações em seu viver.

Mesmo diante de um fato tão complexo e significativo, grande parte das pessoas que ingressam nesta instituição, parecem desconhecer ou desconsiderar tal realidade, casando-se sem o devido preparo para enfrentar os desafios esperados na relação conjugal.

Por outro lado, seria esperar demais que uma pessoa, ao ingressar no casamento, estivesse devidamente preparada para o mesmo, visto ser este um caminho nunca antes trilhado e, em si tratando de seres humanos, constitui-se ainda esta relação, uma das mais complexas da nossa existência, tal a sua profundidade e todo o mistério que a mesma envolve.

Responder à pergunta: Por que as pessoas se casam? não é tarefa simples, nem mesmo para os especialistas, pela multiplicidade de razões conhecidas que podem levar uma pessoa a casar-se. No livro que escrevi com este mesmo título, procurei apresentar as razões universais que levam as pessoa à conjugalidade, embasado na psicologia, na filosofia e na teologia, tendo como inspiração maior a afirmação de Deus no Gênesis: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea” (Gn 2.18).

Neste artigo, sem deixar de lado o conteúdo do referido livro, apresentarei outras razões que podem levam muitas pessoas ao altar, partindo de situações mais práticas.

Inicialmente, devemos deixar bem claro que, nem todas as razões que levam duas pessoas a estabelecer um relacionamento conjugal, devem ser consideradas válidas ou justificáveis. Por outro lado devemos também entender que quanto mais razões temos para estabelecermos um relacionamento conjugal, mais protegida pode se tornar esta relação.

Dividiremos este artigo em duas partes. Na primeira apresentaremos as razões, que denominamos de instáveis, por considerarmos que elas não são suficientemente fortes para nutrir uma relação conjugal e, também, por não justificarem tal relacionamento. Na segunda parte apresentaremos as razões estáveis, aquelas que devem ser, de fato, as motivadoras do ingresso de qualquer pessoa na relação conjugal, pela solidez de suas bases e por satisfazerem melhor os reais anseios do ser humano.

1. AS RAZÕES INSTÁVEIS DO CASAMENTO

  1. Livrar-se de situações indesejadas na família de origem

Esta é uma razão freqüentemente utilizada por pessoas que ingressam no casamento. A família de origem pode tornar-se um ambiente insuportável para certos membros, quando estes se sentem vítimas ou mais atingidos e ameaçados pelos problemas existentes na família. Não importando qual seja o problema, ele atingirá todo o tecido das relações familiares. Porém, as situações indesejadas na família, que mais provavelmente, podem levar uma pessoa a ver o casamento como sua rota de fuga são os seguintes:

  • Relacionamentos difíceis

Relacionamentos difíceis constituem-se em um dos maiores solvedores das nossas emoções. Quando isto acontece no seio da família, a sobrecarga emocional é ainda maior. Se fora de casa é difícil driblarmos esse tipo de situação, dentro de casa é ainda mais difícil. Não estou me referindo aqui a problemas passageiros, como pequenos desentendimentos que comumente podem acontecer no seio da família. Estou falando de problemas que se estabeleceram a partir de determinadas circunstâncias, levando certos membros a uma rota de colisão, tornando cronicamente arruinadas suas relações. Estes problemas podem vividos em certos pares no seio da família, como entre irmãos, entre pai e filho ou filha, mãe e filha ou filho e vive e versa.

Nestas circunstâncias muitas pessoas vêem no casamento a saída para o seu problema. E, se isto acontece o casamento torna-se o resultado de uma fuga. Este fato pode tornar o relacionamento conjugal extremamente vulnerável, podendo ser rompido facilmente ou tornar-se uma relação completamente desvitalizada.

  • Situação sócio-econômica desfavorável

Um outro problema no seio da família que pode motivar um casamento são as dificuldades sócio-econômicas desfavoráveis. Por falta de outros caminhos ou a demora em conseguir uma condição almejada, muitas pessoas, estabelecem como condição para a definição do parceiro, a sua posição sócio-econômica. Por ser também uma situação de fuga, a pessoa que assim procede, deixa de considerar quaisquer outros aspectos do parceiro, focalizando sua atenção somente no aspecto sócio-econômica.

Como sabemos, o dinheiro ajuda bastante, porém, não é tudo, e jamais poderá suprir todas as necessidades de uma pessoa, muito menos na relação a dois. As relações conjugais frutos desse tipo de motivação, são extremamente fragilizadas e carentes de outros suportes para resistir a todas as demandas de uma relação conjugal.

  • Superação de dificuldades emocionais

O casamento pode se constituir em um dos caminhos mais eficazes para a superação de certas dificuldades emocionais de uma pessoa. Entretanto, o mesmo não deve ser buscado como remédio, porque não há garantias de que isto possa acontecer com todas as pessoas. Infelizmente, este é um dos motivos porque muitas pessoas procuram estabelecer um relacionamento conjugal, fazendo dele um refúgio ou um esconderijo.

A pessoa que entra em um casamento para fugir de certos problemas emocionais, coloca em risco não somente sua própria realização, mas, também, a realização do cônjuge.

Algumas das dificuldades emocionais que podem usar o casamento como rota de fuga ou superação, são as seguintes:

  • Insegurança

Muitas pessoas que sofrem terrivelmente com o problema da insegurança vêem no casamento o abrigo perfeito para se proteger de suas ameaças, fazendo do cônjuge o seu escudo, a sua cápsula protetora. Geralmente essas pessoas vivem no casamento uma relação extremamente simbiótica, capaz de sufocar o outro, não lhe permitindo o mínimo de liberdade e crescimento pessoal.

Um ou ambos os cônjuges desenvolvem uma dependência mórbida em relação ao outro, que passa a ser visto como uma espécie de ser absoluto. O ambiente emocional de uma pessoa insegura não lhe permitirá o estabelecimento de relações de confiança favorável ao crescimento a dois. A relação na será de troca, mas de fusão.

Se perder no outro é a necessidade da pessoa insegura. Fazer do outro o seu universo, é a maneira por ela encontrada de se proteger do seu universo de ameaças.

É evidente, que não se pode esperar um relacionamento conjugal saudável, quando este é ocasionado por este tipo de necessidade.

  • Sentimento de solidão

Este sentimento pode ser decorrente da historia de vida da pessoa ou de perdas sofridas por esta. Se no ambiente familiar a pessoa sentiu-se abandona ou rejeitada, isto pode torna-la uma pessoa solitária. Não me refiro à solidão como um fato central e inevitável da existência humana, mas estou falando da solidão crônica que afeta a vida de muitas pessoas nos nossos dias. Estudiosos calculam que 70% a 90% das pessoas que vivem nos grandes centros urbanos são cronicamente solitárias. 

Este tipo de solidão pode motivar muitas pessoas a buscarem no casamento o seu alívio. Não resta dúvidas de que um bom relacionamento conjugal pode ajudar uma pessoa a vencer a solidão, devido ao ambiente de companheirismo, de aceitação, de afeto e de todas as gratificações que um casamento pode proporcionar ao ser humano. Quando a solidão é a motivadora de um relacionamento conjugal, o resultado pode ser frustrante. Este tipo de solidão independe da pessoa está ou não na companhia de outrem. O problema está alojado dentro dela e os relacionamentos estabelecidos na conjugalidade podem não ser suficientes para livra-la do problema. Neste caso, as relações conjugais são por demais frágeis para suportar todas as circunstâncias da vida a dois.

  • Carência afetiva

Dependendo da dinâmica das relações familiares, das vivências afetivas, da expressão ou não dos sentimentos, o ambiente familiar pode gerar pessoas com extremas carências afetivas. São cujas figuras parentais são emocionalmente ausentes e, portanto, não sabem o que é amor de pai, de mãe, de irmãos. Vivem em um deserto afetivo.

Sofridas, estas pessoas procuram superar suas carências afetivas através de um desses caminhos: com indiferença aos sentimentos e incapazes de amar, tornando-se pessoas extremamente frias; ou entregam-se fácil e totalmente, ao outro, com a intenção de suprir a sua carência afetiva.

É ilusão achar que o outro irá nos preencher absolutamente. A realização conjugal não depende só de um dos cônjuges, mas de ambos, daquilo que cada um pode oferecer à relação. Casamento é, portanto, uma troca permanente. Damos, mas, também, precisamos receber. Se apenas um recebe, cedo, podem se esgotar as suas fontes nutridoras.

O casamento pode prestar uma considerável ajuda a pessoa com extremas carências afetivas, porém, uma relação que se estabelece por esta única razão pode facilmente se romper quando a rotina e o tempo mostrarem, claramente, que nem só de romantismo é feito um casamento.

  • Possessividade

O casamento também pode ser motivado por este sentimento. Uma pessoa possessiva necessita de um objeto focal para projetar o seu sentimento de posse. A sua escolha para o casamento estará condicionada por este desejo e, a pessoa escolhida deve atender certas condições, frutos de seus desejos e de suas motivações inconscientes.

Não é difícil percebermos que certas relações conjugais assemelham-se mais a relações parentais, em que um dos cônjuges procura assumir a posse do outro, numa relação semelhante a de pais e filhos. Toda dinâmica conjugal, a forma de tratamento, etc, apontam para este tipo de relação. Se o possessivo encontra uma pessoa que se enquadra no seu perfil desejado, este casamento pode até se estabelecer. Do contrário, o possessivo pode interpretar o não enquadramento no seu perfil, como uma atitude de rejeição, o que pode frustrar por completo a relação conjugal.

  • Sentimento de vingança

O sentimento de vingança é, sem dúvida, a razão que muitas pessoas encontram para se casarem. É o caso de uma filha, que por alguma razão, consciente ou não, odeia o pai e encontra no casamento um meio para vingar-se do mesmo. Não especificamente no casamento em si, mas na pessoa que escolhe como cônjuge. Geralmente alguém que seja bem diferente do perfil esperado por seu pai, ou por sua família, em geral.

Um outro sentimento de vingança pode advir da frustração de um relacionamento a dois. Um rompimento traumático de um relacionamento amoroso, em que um sentiu-se rejeitado pelo outro, pode ocasionar casamentos precipitados.

A pessoa que se sente rejeitada ou menosprezada na relação, pode precipitar-se em um casamento, apenas para provar que é aceita ou reconhecida em seu valor por outra pessoa.

O perigo do casamento motivado pelo sentimento de vingança está na precipitação da pessoa que assim procede. Este sentimento pode impedi-la de fazer uma escolha mais criteriosa, correndo um grande risco de casar-se com alguém que seja bem diferente daquele que viesse como resultado de uma escolha mais consciente e amadurecida.

Um casamento promovido por pelo sentimento de vingança é, portanto, um casamento vulnerável, carente de solo mais firme para se estabelecer de modo equilibrado.

  • Usar o outro como meio para um fim pessoal

Mesmo sendo um dos mais sérios compromissos que assumimos na vida, por todas as suas implicações, por ignorância ou por falta de responsabilidade e por profundo desrespeito aos sentimentos alheios, muitas pessoas fazem do casamento apenas um trampolim para conseguirem seus objetivos, bem diferentes daqueles esperados para um relacionamento conjugal.

No exterior são freqüentes os casamentos selados em troca de green cards, por exemplo. São pessoas que se casam com o objetivo de melhorarem suas chances de permanência no país estrangeiro e conseguirem certas condições garantidas por Lei, em conseqüência do casamento.

Em todos os lugares casamentos são realizados em troca de carros, casas, empregos e de uma série de outros benefícios, o que desvirtua completamente os nobres objetivos da instituição do casamento.

Claramente se percebe a falta de solidez em um relacionamento que se constrói sob esta base. Quem entra em um casamento com a intenção de explorar o outro não possui nenhuma intenção, nem disposição para amar o outro. Quer apenas usá-lo. Em circunstâncias assim, a relação só permanecerá enquanto existir algo a ser explorado. Depois, o outro será totalmente descartável.

Não é justo, não é honesto, não prudente que se estabeleça um vínculo conjugal motivado por este fim. Casamento é coisa seríssima. Casamento é uma instituição divina e deve ser encarado como tal, sob pena de atrairmos sobre todas as pessoas envolvidas na relação traumas e frustrações que se arrastarão pelo resto de suas vidas.

CONCLUSÃO

Como seres humanos precisamos entender que nem todas as razões que movem a nossa vida são conscientemente controladas por nós. Muitas vezes trata-se de razões inconscientes. É importante, porém, que tenhamos o máximo de consciência a respeito de tudo o que fazemos. De modo que, as nossas ações e atitudes devem ser sempre acompanhadas da pergunta: o que está me motivando a fazer isto ou aquilo, ou a pensar deste ou daquele modo?

Um outro aspecto a ressaltar é que todo casamento é estabelecido a partir de certas motivações. Mas, é preciso entender que nem todos os motivos ou razões que levam ao casamento, são procedentes e compatíveis com tal empreendimento.

Devemos ter bastante cuidado para não fazer do casamento, apenas uma via para superação dos nossos problemas pessoais ou um espaço onde projetamos as nossas dificuldades emocionais.

A importância e o valor do casamento para o indivíduo e para a sociedade são por demais elevados. As suas marcas na vida das pessoas são profundas. Com esta consciência, ele só deve ser assumido se as razões que o motivarem, forem também importantes e elevadas, o suficiente para justificar o mesmo.

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Por: Pr. Risan-joper

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