Eu me tornei vovô quando Ana Beatriz engravidou?
Eu me tornei vovô quando, em fevereiro deste ano ao visitar nossa filha no Rio de Janeiro, recebemos a maravilhosa notícia de sua gravidez e saí com Dora para comprarmos o primeiro presente para aquele ser que começava a ser gerado?
Eu me tornei vovô quando, viajando para Ilha Grande, conversamos longamente sobre possíveis nomes para o netinho ou netinha e fiquei pensando sobre ele/ela durante muito tempo nos dias seguintes…?
Eu me tornei vovô quando os pais, depois de alguns meses, finalmente nos liberaram para contar para “todo mundo” que a Ana estava grávida?
Eu me tornei vovô quando percebi o corpo de minha filha ganhando novos contornos?
Eu me tornei vovô quando em uma cerimônia familiar palpitei que a criança seria o sexo masculino e acertei?
Eu me tornei vovô quando vi uma série em vídeo sobre “parto humanizado” que me fez rever alguns conceitos e entender melhor o desejo de Ana e Hélio escolherem o “parto natural”?
Eu me tornei vovô quando, em um dia comum, pela manhã, Ana Beatriz me ligou chorando compartilhando a descoberta de que um exame tinha detectado uma fenda labial e no palato? Naquele dia inesquecível o que mais queria era simplesmente estar perto de minha filha para lhe dar um abraço.
Naquele momento absolutamente singular, senti algo diferente, um desejo forte, não apenas de ampará-la e o seu esposo, mas também de cuidar daquele pequenino que ainda estava no ventre materno.
Eu me tornei vovô durante os nove meses de gravidez quando diariamente oramos pelo netinho que ainda em formação recebia o nome de Pedro?
Eu me tornei vovô quando fomos com Ana a uma consulta e nos emocionamos ao vermos e ouvirmos, através de um exame de ultrassom, o coração de nosso netinho batendo bem forte?
Eu me tornei vovô quando comecei a orar pedindo a Deus que segurasse por uns dias o nascimento do Pedro para que eu e Dora pudéssemos estar em Belo Horizonte, ao lado de nossa filha, no dia em que ele chegasse ao mundo?
Eu me tornei vovô quando, no dia 10 de outubro, no fim da tarde, no saguão do Hospital Neocenter aguardávamos “a principal notícia do ano”, quando o telefone tocou e ouvimos a voz do Hélio: “o Pedro nasceu!” e corremos para ver o menino?
Eu me tornei vovô quando entramos no quarto onde Ana e Hélio choravam de alegria e, contemplando aquele o lindo rostinho, sentimos um especial carinho por aquele pequenino bebê e uma profunda gratidão a Deus?
Eu ainda não sei o momento exato em que me tornei avô, mas hoje percebo que existe algo inexplicável, transcendental, além do que eu poderia imaginar, quando olho para este bebê, totalmente dependente dos cuidados de outros e experimento um amor diferenciado.
Um amor que envolve menos medo e responsabilidade do que experimentei quando me tornei pai de nossos filhos.
Um amor que nos traz uma especial alegria só de ver ou pegar no colo aquele ser que ainda não sabe o quanto é amado por nós.
Quando olho para o nosso neto me emociono ao pensar no quanto Deus nos ama antes mesmo de termos consciência do Seu amor e cuidado para conosco.
Eu não sei exatamente qual o dia em que me tornei avô. Hoje acho que a gente não se torna avô em um dia, mas Deus nos dá nove meses para irmos assumindo este novo status existencial. Nove meses para ir crescendo dentro de nós um amor incondicional.
Hoje sou avô e estou casado com uma vovó. Este papel que assumimos agora nos une ainda mais e nos leva juntos para uma nova etapa em nossas vidas. O nosso Pedro, mesmo sem saber ou fazer nada, simplesmente por existir, é responsável por isso.
Estou aqui em Belo Horizonte, curtindo as preocupações, alegrias e lutas dos primeiros dias de um recém-nascido em casa. Ouvindo seus resmungos quando está com fome. Tirando fotos. Colocando um pouco no colo. Ajudando nas tarefas de casa para facilitar o trabalho dos demais que cuidam dele.
Vivendo ao máximo esta experiência ímpar, já aguardando o dia em que ele vai olhar para mim e dizer: “vovô.” Neste dia, mais uma vez, saberei que sou mesmo vovô.
***********
Por: Marcos Monteiro