“Ore por meu filho, Irmã Dulce. Ele não fala comigo, vive isolado dentro de casa, mas com os de fora ele é muito cordial e conversador.” Assim começou o diálogo que tive com certa mãe, num encontro de mulheres. Diálogo, sim, pois o caso mereceu minha atenção, que terminou em aconselhamento, além de orar com ela na ocasião. E, conversando, percebi que aquela querida irmã não soube aproveitar o momento certo para semear uma convivência aberta e amigável. Estava colhendo o que semeara. Mas, como nunca é tarde para corrigir, procurei apontar-lhe algumas saídas para a conquista da amizade e confiança de seu filho. Graças a Deus, ele é um jovem cristão, o que facilita a atuação divina na solução do problema.
Sei que isso não acontece só com aquela irmã, mas muitos pais têm a mesma queixa: o silêncio de seus filhos adolescentes. Silêncio no que tange à conversa, ao diálogo, pois, em outras áreas, eles são até bastante barulhentos.
O que eu, com muito tato, disse àquela mãe, repito agora para os leitores: talvez tenha faltado um bom investimento em seu filho na infância. Não investimento financeiro, que este não é o mais importante. Refiro-me a investir em tempo, atenção e em bom relacionamento.
A criança é um ser social por natureza, a menos que tenha problemas de saúde, como é o caso do autista. O bebê não gosta de ficar sozinho, por isso ele chora e reclama a presença de alguém a seu lado. Ainda antes de falar, ele já sorri para as pessoas, estende os bracinhos para alguém, quer brincar. Está na hora de os pais investirem nesse relacionamento. Aliás, a comunicação já deve começar na barriga da mamãe. É fato comprovado que o feto recebe influência e reage àquilo que ouve e sente. Em Lucas 1:39-45 temos uma prova disso, quando Maria, grávida de Jesus, foi visitar sua prima Isabel. Esta diz que, ao ouvir a saudação de Maria, o bebê João Batista “saltou de alegria dentro de mim”. Uma descoberta não muito antiga da ciência, mas já revelada por Deus há milênios atrás.
Nascido o bebê, hoje se conversa com ele a todo momento: amamenta-se, dirigindo-lhe palavras meigas e carinhosas; troca-se a fralda conversando e brincando com ele; na hora do banho, canta-se, fala-se e brinca-se com ele. É notável a reação do bebê, que passa a identificar a voz do papai, da mamãe ou de quem cuida dele. Na infância, a criança gosta muito de conversar. Ela quer contar tudo o que sabe e o que viu. Ela pergunta tudo e sempre há alguma coisa mais que ela quer saber. A criança tem necessidade de mostrar suas “artes”, sejam desenhos, escritas, os trabalhos da escola, as aprendizagens novas. Estou vivendo isso agora com meus netos: “Vovó, veja, eu já sei pular corda… Vovó, venha ouvir a música nova que eu estou tocando… Vovó, já viu eu andar de bicicleta sem as rodinhas? Vovó, na minha igreja hoje…”. E eu louvo a Deus porque hoje tenho tempo para ouvi-los e incentivá-los.
Os pais, entretanto, com a vida agitada e preocupada que se leva, nem sempre têm tempo para ouvir e ver as façanhas de suas crianças. Mas eu diria que eles precisam fazer esse tempo; devem se disciplinar para separar tempo para os filhos e dedicar-se a eles. Não só para cuidar, mas para conversar com os filhos. Felizes são os pais que pensam e agem assim, pois estão semeando para o futuro. Conversar com as crianças é preparar-se para ouvir os adolescentes e jovens. Promova esses momentos. Pare, pelo menos por alguns instantes, o que está fazendo, nem que seja para jogar conversa fora com seus filhos.
Os pais que estão fora de casa durante todo o dia (e quem hoje não está?), que arranjem tempo à noite para sentar-se com os filhos, ainda que seja ao lado da sua cama e conversar. Ouvir o que eles têm a dizer e dizer-lhes o que eles querem ouvir. Reservem finais de semana para passear com eles ou divertir-se mesmo em casa. Essas são horas deliciosas, muito oportunas para observá-los e formar valores éticos, morais e espirituais. Conversem com eles sobre todo e qualquer assunto. Às vezes, seus assuntos são tão infantis, sem nenhum interesse para os adultos, mas para eles muito importantes. Não deve haver barreiras na comunicação entre pais e filhos: todos os assuntos são válidos e puros, ainda mesmo aqueles que façam alguns pais mais tradicionais corarem diante dos filhos. Suas perguntas precisam ser todas respondidas com honestidade e clareza, mesmo aquelas mais embaraçosas: “De onde vêm os bebês? Como ele entrou na barriga da mamãe? E como vão sair de lá?”. Dentro dos limites da compreensão infantil e de acordo com a sua idade, mas com toda a realidade. Nada de fantasias ou mentirinhas.
Outra boa semente é a valorização dos seus trabalhos, desde os primeiros rabiscos. Será um incentivo. Já tenho visto pais e avós que até fazem quadros dos desenhos de seus filhos e netos. Já imaginaram a alegria dessas crianças e o incentivo que estão recebendo?
O relacionamento entre pais e filhos precisa ser um relacionamento de amigos: amigos se amam, amigos se apreciam, respeitam-se mutuamente, abrem-se com sinceridade uns com os outros; amigos compartilham confidências, interesses, vitórias e frustrações. Amigos se escutam. Essa amizade começa na infância, porque, se assim não for, em outra idade será difícil se desenvolver. Quer que seu filho adolescente goste de falar e conversar com você, de abrir seu coração e revelar seus pensamentos? Ouça sua criança! Fale com ela de amigo para amigo. Quer um jovem que confidencie com você seus segredos, preocupações e alegrias? Aceite-o quando ainda pequenino, aceitando suas tristezas fúteis e mágoas desnecessárias. Quer filhos adultos que o procurem para orientação e ouçam seus conselhos? Pare para ouvir sua criança. A infância é a época da formação dos hábitos, é a semeadura de atitudes, o investimento no caráter. A adolescência, juventude e maturidade dos filhos é a hora de sacar os rendimentos.
O Pr. Gilson Bifano, quando capelão do Colégio Batista do Rio de Janeiro, distribuiu para os pais um depoimento do jornalista Helio Fraga, de Belo Horizonte, em que ele comenta como gastou tanto tempo de seus 18 anos de casado, correndo atrás de realizações pessoais e preocupado com o futuro de sua família. “Isso”, diz ele, “me custou longos afastamentos de casa em viagens, estágios, cursos, plantões no jornal, madrugadas no estúdio de televisão… uma vida sempre agitada, tormentosa e apaixonante, na dedicação à profissão que foi, na verdade, mais importante do que minha família” (grifo meu). E ele, com tristeza, dá o resultado: um filho de 14 anos que se drogou e morreu e uma filha que, antes de completar 16 anos, fugiu de casa e se prostituiu.
A conclusão desse depoimento serve de conselho e advertência a vocês, pais leitores: “Depois de uma dramática experiência pessoal e familiar vivida, a mensagem que tenho para dar é: não há tempo melhor aplicado do que aquele destinado aos filhos”. É preciso, sim, garantir o sustento de sua família, mas nada que o impeça de manter excelente relacionamento de amizade, atenção e tempo com seus filhos. O maior beneficiado será você, que terá filhos sempre interessados em você e em seus assuntos. Posso garantir, por experiência própria, que seus rendimentos serão os melhores e mais altos.
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Por: Dulce Consuelo Silveira Lopes Purin